24 de março de 2010

Uma biblioteca original e divagações...

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(imagem: multitud.ning.com)

Dia de receber notícias de uma amiga-irmã a leccionar em Maputo não deixa de ser um momento para estabelecer gratas associações.
Tendo acabado de confirmar o que suspeitava: a avidez pelo saber por parte de meninos pobres desta capital africana saindo, muitos dos seus professores, de um colectivo português, o pensamento divaga por mil e um temas e problemas tendentes à dispersão.
Lembrando que a indisciplina nunca foi vivência quando trabalhei em africanas latitudes onde o Português é língua oficial – apesar de por cá ‘flectir e insistir’ em matéria de civilidade, bem como num insistente apelo à leitura, lançando mão de mil e um argumentos possíveis e imaginários que possam dizer algo aos adolescentes – salto para a adopção nacional do termo bullying por parte de certos articulistas, palavra oportunamente designada por 'má-criação' (se bem que no presente a ultrapassar os limites da sobrevivência) e, não sendo pessimista, dou comigo a pensar que já era tempo de se arregaçar mangas e passar à prática antes que seja tarde.
Sempre que assisto a comparações com o incomparável – colégios de elite (onde no limite a expulsão é possível) vs escolas públicas de zonas problemáticas ou caracterizadas pela exclusão social – recordo o local onde trabalho há mais de duas décadas e as bibliotecas de turma a caber, num passado não assim tão distante, em caixotes na mala do carro de cada professor de Português a tentar o contágio do prazer de ler. Isto porque escolas onde são pagas mensalidades ao alcance de poucos bolsos, e neste particular há que ser realista , certamente terão bibliotecas bem apetrechadas.
Não deixei de sentir alguma assumida nostalgia dos tempos em que os nossos pequenos utilitários se encontravam recheados de livros e eram ainda transporte para devolver publicações às editoras (situações em que ficamos sempre divididos entre a revolta e o serviço cultural) sempre que , na escola, organizávamos feiras do livro com convite extensivo às famílias. Numa área agro-industrial com elevado número de habitantes carenciados, os livros regressavam quase na íntegra ao local de partida, sendo a sua divulgação feita essencialmente com o intuito de, durante uma semana, a miudagem se poder sentar no chão, em almofadas, a folhear clássicos da literatura juvenil como Rob Roy, Ivanhoe, Oliver Twist ou ainda os mais populares títulos de BD.
E assim se explica as livres (ou nem tanto) associações entre indisciplina e leitura, tudo levando a crer que um leitor entusiasta tem forçosamente de ser alguém socialmente estimável.
Nem de propósito, de regresso a casa e mergulhada em pensamentos 'livrescos', encontrei este vídeo na caixa de correio pessoal: uma colombiana biblioteca itinerante cujo veículo é um burro.

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