22 de janeiro de 2010

SÍTIOS POR ONDE ELE ANDOU

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“O Pote”, ali na João XXI, em Lisboa, tempos idos, décadas 60/70, era um vulgar restaurante, como tantos na cidade, mas que a partir da meia-noite virava tasca onde desaguava toda a casta de noctívagos, para umas bifanas, uns pregos com ovo a cavalo, vinhos, cervejas, também para o último copo, o último não, o penúltimo, porque o ultimo, esse, é na hora da morte.
Também havia o “Alfredo”, para os lados da Avª de Roma, mas esse fechou hà muito, por lá têm passado uma série de negócios, o último que viu era uma boutique do pão. Também a “Alga”, mas essa ainda está na Conde Sabugosa, perto da “Sinfonia”, na Avª de Roma, onde, por vezes, se compravam uns discos e uns livros que não circulavam por outras sítios.
Hoje “O Pote”, que naquele tempo não tinha a esplanada que se vê na imagem, é um restaurante sossegado e nunca mais virará, depois da meia-noite, hora de fantasmas e sonhadores, o quase-albergue-espanhol daqueles tempos.
Por estes sítios aconteceram conspirações, amores, desamores, conversas sem fim, que não se sabia se alguma vez tiveram um princípio, discussões várias e agitadas, pertencer a uma geração que quando queria fugir de si própria, não era bem fugir, desaguava em livros, músicas, filmes, cervejas, vinhos, muitas cigarradas
Mas “O Pote” era o preferido. Dele fazíamos porta-aviões, quando tudo já encerrara portas na cidade. Ingenuamente (poderia ter sido de outra forma?), unidos, a tentar ajudar outros, que queriam derrubar uma ditadura. Foi bom esse tempo, um tempo de causas, objectivos, éramos felizes, simplesmente não o sabíamos.
Numa madrugada, a tal ditadura caiu.
Depois, bom depois, não sabe se inevitável ou não, cada um partiu para o seu lado e trataram de arranjar inimigos diferentes.
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Uns vieram a descobrir que tinham participado num filme, no lado errado do “casting”, outros deixaram de se falar, outros nunca mais quiseram ouvir contar desses dias, dessas noites. Findo o que nos unira, os valores perderam-se e hoje, já está a fazer-se tarde e estamos todos muito velhos, tal como escreveu o Jorge Silva Melo nas suas memórias do século passado, e não pensam – ou não querem pensar - no que aconteceu.
Mas que aconteceu mesmo!
“Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto.”, tal como o Alberto Caeiro deixou escrito.
A memória como último refúgio: “lixámos tudo, pá!”
É certo que a esquerda fez erros, “desfigurou as linhas do seu rosto”, tal como um dia Sophia disse.
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1 comentário:

  1. Engraçado!!!!

    Por estas paragens fiz vários percursos na ida e na vinda do Liceu Rainha Dona Leonor...

    Agora ficou uma memória cá dentro!!!!

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