28 de janeiro de 2010
NA ROTA DE VELHOS ANÚNCIOS
Este anúncio foi publicado no “Diário de Notícias” de 30 de Março de 2002.
Hoje, o mundo do pequeno anúncio é, completamente, diferente: apelam a call girls, a carl boys, a massagens a isto, aquilo e aqueloutro.
Um tempo houve que os anúncios, principalmente os do “Diário de Notícias” falavam de pessoas à procura de outras para convívio, para refazerem uma vida, pessoas invadidas por uma solidão, a que, desesperadamente, queriam fugir.
“Sou divorciada, 36 anos e dois filhos. Procuro companheiro livre, formado e culto para juntos construirmos a felicidade a que temos direito”.
“Separado, 48 anos, grande solidão, posição estável, pretende senhora para convívio”.
Fugir à solidão, tentar, ainda, uma gota de felicidade, por vezes nem felicidade é, apenas um aconchego… Que faz correr esta gente cansada? Donde vem esta gente tão só? Que sabemos nós? Que desígnios, situações, circunstâncias os levaram até aqui?
O vazio. A lucidez deste hábito. Nascer é inaugurar a solidão. Será?
Há prédios no centro de Lisboa onde apenas vive um idoso, o resto são escritórios.
Quando a pessoa se dá conta que está sozinha vai para o hospital. Não diz que está sozinho, diz que está doente. Os serviços hospitalares têm destes casos todos os dias.
E estes são os que ainda podem sair de casa. Outros, bom outros…
Quantos milhares de idosos vivem sozinhos em Lisboa? E ali? E acolá?
Saber administrar a solidão…
Perguntaram a um pastor se ele não se aborrecia de estar ali, dias e dias, com as ovelhas e mais nada.
“Não, não me aborreço porque as ovelhas às vezes bolem…”
A solidão que não pára de crescer…
“Não me deixes
Oferecer-te-ei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Onde nunca chove
Não me deixes
Deixa-me ser
A sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cão
Não me deixes…
Que saudades dos tempos não muito longínquos...
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