23 de janeiro de 2010

COISAS DO SÓTÃO

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Fecha hoje o ciclo da incursão pelas folhas de recensão da Gulbenkian, em redor dos livros de Roger Vailland. O livro em apreço é “Roda da Fortuna” e o recenseador escolhido foi António Quadros.Declarou o livro: “Não aceitável”
Escreveu António Quadros:
“O clima de total amoralidade deste livro torna-o não aceitável. Trata o tema favorito de Vailland, o trio amoroso, constituído pelo homem, intelectual ou artista sem preconceitos, pela mulher, complacente, ao ponto de favorecer amantes ao marido, e a jovem ingénua que se deixa seduzir pelo encanto daquele. A história é bem contada, mas a crueza com que esta amoralidade é apresentada torna-o não aceitável.”
O livro foi publicado em Portugal, pela Ulisseia, em 1961.Há alguma perplexidade para tão peremptória apreciação.Visto assim à distância, inclina-se para que tudo tenha a ver com o espírito libertino que povoa os romances de Vailland e que terá provocado alguma perplexidade ao conservadorismo, vigente na época, e ao qual António Quadros não conseguiu fugir.Roger Vailland acabou o livro em 1948, ainda faltavam vinte anos para o Maio de 68.
Terá António Quadros, e dada a sua formação histórica-filosófica, exercitado um novo olhar, face aos acontecimentos de Maio de 68 (morreu em 1993) ter voltado a ler o livro?
Meras especulações…
Conhecendo o espírito do livro, foi à procura do que, provavelmente, terá ofendido o espírito de António Quadros
Como gosta mesmo de perder tempo, em coisas que lhe dão prazer, foi reler o livro (quantas vezes já o fez?) e petiscou algumas frases. Apenas um leve exercício:

“Mesmo no Inverno dormia nua. Bastava-lhe um pouco de álcool para não sentir frio.”
“Gozar a vida – disse Milan – é como um ofício, tem de se aprender. Mas é talvez preciso começar muito cedo”.
“- Continua a pensar que a sua mãe não tinha razão? – perguntou Helena
- Cada vez mais – diz Roberta – É muito menos humilhante dobrar a espinha ante as injúrias da nossa mãe, mesmo que seja prostituta, do que passar uma única noite com um homem que não amamos.
- Mas podia trabalhar, diz Helena.
-Não – diz Roberta – Fazer um trabalho que não agrada é tão humilhante como dormir com um homem que nos repugna.”
“A sua voz era meiga. Ela adorava que ele estivesse bêbedo. Desde que ele tivesse bebido muito ela não se ofendia com coisa alguma, nem mesmo que ele lhe batesse ou ralhasse.”
“Minha filha, nunca se deve dizer a um homem que o enganámos. Mesmo que aceitasse a tua infidelidade, mesmo que a encorajasse, o que é certo é dez anos mais tarde se serviria da tua confissão como de uma arma contra ti. Nega mesmo a evidência. Foi a única coisa razoável que me ensinou a minha abominável mãe.
“- Provocas-me – disse ele – Pôr-me fora de mim é ainda a única maneira de que dispões para me dominares.”
“ A cobardia é um dos aspectos da vida conjugal.”

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