2 de novembro de 2009

PASSANDO OS OLHOS PELA VIZINHANÇA...

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“…é a velha história, demora-se muito tempo a ver bem um filme.”

Cristina Fernandes em “Dias Felizes”, http://last-tapes.blogspot.com

“Há quarenta anos (desde que comecei a frequentar Tibães) que imagino como soará o admirável órgão barroco da igreja principal da antiga casa-mãe da congregação beneditina. Em 1997, quando soube da abertura do concurso, respirei de alívio e de satisfação. Finalmente, pensei, iria poder ouvir o órgão de Tibães. O concurso, porém, foi anulado e tudo regressou à estaca zero, digo, à consabida inércia nacional. 12 anos depois, o órgão continua por recuperar e, naturalmente, vai-se degradando. Pobre país (afogado em auto-estradas e prometido à alta velocidade ferroviária), que não tem sequer uns trocos para restaurar uma das suas jóias patrimoniais...”

Ademar Santos em “abnoxio” http://abnoxio.webblog.com.pt

“Adenda editorial: quanto a mim, não fotografo à procura de nenhum apuramento ou realização artísticos, mas por motivos infinitamente prosaicos. Não gosto de passear sozinha. Mas os factos da vida obrigam-me, em certos dias da semana, a umas horas de espera e recomendam-me que as preencha com caminhadas enérgicas. Ora sucede que, com o meu «caixote» disfarçado na mão, não sinto a solidão. Parece que levo comigo um segundo olhar, com que posso partilhar as surpresas e as emoções que Lisboa nos reserva ao dobrar de… algumas esquinas. É uma companhia silenciosa, mas atenta e compreensiva; tem as minhas preferências; marcha ao meu ritmo... Não é uma excelente companhia?”

Luisa em “Nocturno” http://nocturno-la.blogspot.com

“Todos os anos, antes do Natal, uma Tempestade, um Relampago, uma Face oculta. A PJ mostra que isto é um estado de direito, que os poderosos podem ser investigados. O povo rejubila. Na sociedade do espectáculo, o show da igualdade dos cidadãos perante a lei. Dura um mês. Alimenta umas sociedades de advogados, uns juízes e alguns intermediários. Há um incauto que cai. O Bibi ali, o Faria de Oliveira acolá. Há uns sobrinhos que têm de fazer as malas e uns tios que abandonam a ribalta até uma lua mais favorável. Depois chega o Ano Novo e, no terreno real dos Tribunais, a coisa resolve-se, entre a poeira e os recursos.”

Luis Januário em “A Natureza do Mal”, http://anaturezadomal.blogspot.com

2 comentários:

  1. O património que se pulveriza traz à memória uma frase ouvida a um arqueólogo e que já será certamente um 'encore' de tal modo me acompanha: « corremos o risco de nos tornarmos num país de amnésicos povoado de betão», o que remete, uma vez mais, para o divórcio entre política e cultura (não entrando deliberadamente por outros interesses mais ‘vis’ como o do 'vil metal').

    Parece o país de amnésicos ser extensivo a tantas outras realidades que não a da cultura que gostaríamos de preservar na memória dos mais novos.

    Mesmo para quem acredita em recompensas noutras esferas por ter «fome e sede de justiça», parece quase utópica a possibilidade de a ver concretizada, nesta matéria, pois tudo deveria ser no «aqui» e no «agora» em vez de assistirmos a este desfile carnavalesco que nos é imposto .

    Obrigada por este alerta expresso através das palavras desassombradas de autores- cidadãos, bem como pela fotografia.


    Com projecção nos vindouros ('se os houver', como afirmava o poeta) vai ocorrendo – melhor ou pior - a postura de não cruzar os braços (poderá parecer extemporâneo e algo naïf o ‘há sempre alguém que resiste’, mas ‘damn it!’) e pensar no belíssimo poema de Manuel Rui que nos evoca ciclos e a inerente renovação:

    «(…) Mas o capim está a arder/ e a força que vem da terra/ com a pujança da queimada/ parece desaparecer./ Mas não! Basta a primeira chuvada/ para o capim reviver.». E isto pela recusa em se cair na amargura de dias cinzentos.

    Abraço

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  2. Obrigada pela referência, Gin-tonic. Companhia ou não companhia, desconfio de que, no âmago do problema, está o não saber lidar com um par de mãos vazias. ;-)

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