2 de novembro de 2009

Da biblioteca a Ítaca: viagem através dos textos

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(Maastricht, túneis de Saint Pietersberg)

Datas convencionais podem tornar-se significativas se associadas a boas práticas. Vem a ideia a propósito do «Dia das Bibliotecas Escolares» comemorado no meio de um público atento, estantes e muitos, muitos livros.
Antecedendo a leitura a cargo de diversos actores do conto queirosiano «A Perfeição», foi realçada a permanente nostalgia de Ulisses na paradisíaca Ogígia, nunca extinguindo Ítaca do pensamento, consciente de que na terra natal (ao contrário da experiência vivida no fantástico território da deusa ) o tempo, implacável, lhe devolverá a condição de mortal.
Essa ânsia do regresso à pátria por mares traiçoeiros, nada mais é do que o mito do permanente desassossego a impelir cada ser humano. A recusa da perfeição associada ao espírito do herói, traz à memória o poema Ítaca da autoria de um dos maiores de todos os tempos :

Faz votos por que seja longa a viagem.
As manhãs de verão que sejam muitas
Em que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
[…]
Ítaca guarda sempre em tua mente.
Hás¬ de lá chegar, é o teu destino.
Mas a viagem, não a apresses nunca.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho aportes à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.

Ítaca te deu essa bela viagem.
Sem ela não te punhas a caminho.
Não tem, porém, mais nada que te dar.

E se a fores achar pobre, não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que significam Ítacas.

Konstandinos Kavafis, Ítaca (excerto)

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