30 de outubro de 2009
Opiniões: o Halloween
O seu a seu Santo
Eu bem sei que a culpa é da globalização, essa mesma que, ainda quando não existia, já mandava em nós.
Por isso é que há dezenas de anos andamos, por ordem da Coca-Cola, a vestir de vermelho o Pai Natal, mas pronto, vermelho é vermelho, sempre que nos recorda o Glorioso, e só isso já é uma grande alegria. Mas nem sempre a globalização nos enche de orgulho. Confesso que embirro um bocado quando as nossas criancinhas aparecem todas pintalgadas a festejarem – imagine-se! – o Halloween. Não é que eu tenha alguma coisa contra as bruxas, nem pouco mais ou menos, que seria de nós sem elas, sobretudo dos programas da manhã da televisão, que tanto delas se alimentam… O que me aflige é que tenha sido preciso recorrer à ajuda estrangeira num assunto em que a nossa terra sempre se tem mostrado fértil: andar, na noite de 31 de Outubro, a bater de porta em porta, sempre por cá se fez, chamando-se a isso «pedir o pão por Deus» (ou outro nome, conforme a região), e de histórias de bruxas está a nossa tradição a abarrotar. Infelizmente, o Halloween não é a única «tradição» importada: assim que chega o mês de Fevereriro, rebenta por toda a parte uma incontrolável explosão de I love you em coraçõezinhos vermelhos (e viva o Glorioso, mais uma vez) festejando S. Valentim e os namorados.
Ora digam-me lá: quando se tem, como nós, um Santo António comprovadamente casamenteiro, qual a necessidade de importar santo de outro país, quando, ainda por cima, o produto nacional é de qualidade superior? Que os nossos especialistas de marketing puxem pela cabeça e apresentem, para essa época, parafernália semelhante à do 14 de Fevereiro mas sem se recorrer às americanices pacóvias.
Alice Vieira, Tempo Livre, nº157, Fevereiro de 2005 (adaptado)
Subscrevo por inteiro! Estes "business" importados
ResponderEliminarsão sinal absoluto de empobrecimento cultural.
Fuck Halloween !!!!
:)
ResponderEliminarJá disse e volto a repetir que só acho mal que os miúdos não percebam a origem do Halloween, pois as bruxas andam à solta em todo o lado e parece que Vinhais tem uma festa de arromba esta noite...
ResponderEliminarQuanto ao dia dos namorados, acho que a senhora falhou completamente. Um santo abençoa os namorados o outro ajuda a dar o laço do casamento. Não são a mesma coisa. O São Valentim está lá pelo efémero daí as rosas (que são cortadas, e vão murchar mais cedo ou mais tarde) o Santo António é para o compromisso da vida, daí os manjericos (em vasos, a precisarem de ser regados)...
Além disso... nas aulas de inglês eu falei das tradições anglo-americanas (S. Valentim incluído), em português nunca se falaram em tradições do género. Se me falam da educação de casa, que as coisas deve ser ensinadas em casa... Santo António será sempre o santo do aniversário da minha mãe e o padroeiro da minha aldeia é o São Pedro, logo, e não é que ligue muito, as influências mais fortes que tenho são do santo que lembra o Glorioso (que até isto pode ser subjectivo!!)..
Vinhais é especial, Luísa. Graças ao local, muita da nossa tradição hoje se encontra registada para memória dos vindouros, quer venham ou não a ter amor às nossas raizes (seja através da escola, da família, dos amigos ou da curiosidade pessoal). Basta pegarmos em estudos sobre o romanceiro tradicional português e ver quantas versões de lá foram recolhidas, e isso será um mero exemplo.
ResponderEliminarQuanto à importância de 'bruxedos, bruxarias e similares' existem estudos sérios muito interessantes (não dos 'esotéricos') a dar conta do peso do fenómeno e aí Alice Vieira terá certamente razão.
Relativamente a analisarmos as nossas tradições (nas aulas e eventualmente nas comunidades em que nos inserimos), muitas foram vividas por diversas gerações e hoje não o são, sendo a globalização um fenómeno que terá muito a apontar (de bom e de pior), interrogo-me se será unicamente uma questão escolar e duvido muito disso. O texto é uma caricatura bem conseguida (parece-me) e se olharmos para exemplos diários de 'pequenas/grandes' coisas já do domínio da globalização, surgem-me as seguintes questões: 'será que algo é do domínio global por esforço da escola? O que resulta do domínio global ter-se-á assim tornado por esforço consciente? Por ter mais qualidade (e aqui permito-me duvidar)?' etc., etc., ...
Para ver se 'pertencer à globalização' significa 'ter mais qualidade', deixaria exemplos de 'comida' e 'música' só para pensar: pizza e hamburger (e temos, não globalizado, o nosso belíssimo 'cozido à portuguesa' ou a maravilhosa doçaria conventual );
samba e pop music (o nosso fado ou a morna de Cabo Verde dificilmente serão globalizados, por muito que Amália ou Cesária Évora possam ser do domínio público)... e quanto ao último exemplo, a questão da proveniência geográfica não me parece relevante, pois poderíamos pensar em fenómenos como o do reggae e isto surgiu-me agora subitamente assim como que do nada.
São só pistas de reflexão e não 'verdades inabaláveis' (nunca, nem faria o género)
Bom fim-de-semana:)