30 de setembro de 2009
COMEÇOS DE LIVROS
“Naquele tempo o deserto era povoado por anacoretas.”
”Assim começa “Thais” de Anatole France. Poderia ser uma outra, mas a tradução que tem em mãos, é a que o avô fez.”
Há precisamente um ano iniciou a sua colaboração no “Dias Que Voam”.
O que atrás leram foi o começo desse primeiro texto e que terminava assim:
”Esta invocação de “Thais”remete-o, para alguns jantares com o pai. Quando as garrafas já iam adiantadas e a filosofia escorria pelo vidro dos copos, citava o início do “Thais” em francês: “En ce temps-là le désert etait peuplé d’anachorètes.”
Depois acrescentava-lhe a tradução. Ficava durante alguns segundos com o braço no ar, um sorriso ao canto da boca, os olhos perdidos não se sabe onde.
Gosta de ficar a pensar que o seu fascínio por começos de livros, talvez venha do tempo desses jantares com o pai.
“En ce temps-là...”
Por Março deste ano, o “Público” convidou alguns escritores a revelarem qual o começo de livro de que mais gostavam. Este é o de Vasco Graça Moura:
“En ce temps-là, le désert était people d’anachorètes”
“Thais” de Anatole France. Edição ilustrada da Librairie des Amateurs.
“Naquele tempo, havia muitos anacoretas no deserto.” (Tradução de Vasco Graça Moura)
É a primeira frase da “Thais”, de Anatole France, de que eu tenho a edição ilustrada da Librairie des Amateurs (Paris 1909). A razão é simples e tem menos a ver com a litaratura do que com uma enorme admiração por alguém: há um bom par de anos disse ao Eduardo Lourenço (creio ter sido no Brasil) que tinham acabado de me oferecer esse livro. E ele, semicerrando os olhos como a contemplar o deserto, disparou: “Ah, a Thais… En ce temps-là, le désert etáit peuplé d’ anachorettes…”
Foi com comoção que leu esta citação de Vasco Graça Moura.
Fez de imediato o registo de que, quando fizesse uma ano de colaboração no blogue, voltaria a tudo isto:ao avô, ao pai,, dois homens que lhe traçaram os passos e tudo o resto. Também um regresso a “Thais” ao tempo em que o deserto estava cheio de anacoretas.
Um belo começo de livro, também uma maneira feliz de dizer o quanto lhe tem agradado andar por aqui. Sentir o desejo de, também, deixar um obrigado aos viajantes dos "Dias Que Voam", bem como aos restantes colaboradores.
Obrigada digo eu, caro Gin:) Muitos mais anos a escrever no Dias é o que eu desejo:)
ResponderEliminarObrigada pela pequeníssima parte que me toca. Tem sido a título pessoal igualmente um prazer passear por aqui a ler os 'posts' de todos, escrevinhar, comentar, sendo todas as actividades da listagem igualmente aprazíveis (o que me fez lembrar estar quase igualmente a completar o 1º aniversário 'voador'):)
ResponderEliminarE quanto aos anacoretas, eles são sempre importantes (não só no tempo em que povoavam em número considerável os desertos)dado ser nos momentos de isolamento que as ideias ganham forma - opinião pessoal e discutível - sendo o 'deserto' o espaço para 'carregar baterias' e regressar com mais alento à 'povoação':)
todos agradecemos gin :)
ResponderEliminarpelos textos, pelas memórias, pelos comentários.
o dias tem esta coisa interessante de se ir refazendo ao longo dos tempos com gente diferente.
é bom sentir que se integram bem e que o dias absorve naturalmente os que chegam... mesmo que cheguem de locais muito diferentes.
Quando perguntaram a Tcchekov de que tratavam as suas peças respondeu que as pessoas comem, bebem e dizem palermices… chegam de longe, chegam de perto, falam do tempo, jogam às cartas.
ResponderEliminarÉ o que também tem andado a fazer, obviamente sem o talento de Tchekov. E assim continuará...
Obrigado eum grande abraço.