30 de julho de 2009
Verão, feiras e romarias
Mal cheirando ao Verão, começa a época em que as festas (grandes e pequenas), em muitos lugares, semanalmente, irrompem, trazendo aos que as fazem ou usufruem a (boa) lembrança de efémeros instantes de horas conviviais. (Já sabemos que tristezas não pagam dívidas; mas as dificuldades – quando se tornam permanentes – amachucam o ânimo, até dos mais resistentes.) Assim, ficará das folestrias destes santos padroeiros, que permanecem populares e insubmissos ao peso da tecnocracia, a alegria e o contentamento de reencontrar amigos e, sei lá, talvez as raízes que, a custo, vão resistindo às estereotipias.
Desde já se diga – para não ser acusado de centralismo cultural portuense – que este escrito relativo à saúde e ao futuro das festanças não se aplica apenas à realidade tripeira, onde, aparentemente, o S. João e o S. Gonçalo continuam a ser banhos de multidão. Embora as romarias sejam ainda às centenas, penso haver factores que reflectem a negação do verdadeiro espírito, ou até a previsível extinção das tradições da festa (romeira ou não) no ambiente urbano. Estes factores não são rigorosamente os mesmos que indiciam idênticos problemas no ambiente rural ( e é significativo que, segundo suponho, nas regiões piscatórias, não existe um decréscimo sensível daquelas usanças).
Com o apogeu entre Junho e Agosto, estamos nos meses festivos por motivos que têm a ver com hábitos e práticas rituais muito anteriores ao significado religioso que o catolicismo transmitiu à maioria das romarias. O Verão, o Sol, a plenitude dos ciclos da terra que trazem – com as colheitas – a esperança da abundância e da recompensa dos trabalhos afanosos do resto do ano, conjugavam influências nas festas do Estio que o cristianismo adoptou. O mesmo acontece com os outros ciclos: do Inverno, da preparação das terras, das sementeiras, do aparecimento da Primavera… As festas são (eram?) reencontro sempre renovado (embora inconsciente) do homem com os ritmos naturais. São morte, ressurreição e vida. De toda a gente.
O São Bento é das peras
O São Lázaro dos anéis…
As Marias dos Antónios
E as Anas dos Manuéis.
Hélder Pacheco, Rostos da Gente – escritos sobre património cultural e outras histórias
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