29 de abril de 2009
NOTÍCIA DOS DIAS QUE VOARAM
30 de Abril de 1974
Se agora lhe perguntassem o que fez depois da madrugada por que esperava, diria que daí até ao 1º de Maio, necessariamente, terá dormido mas, do que lembra bem, é que andou num turbilhão vertiginoso ao ponto de dizer que esse dia 25 não foi um dia, foram mais: que vai desde 25 de Abril até ao primeiro 1º de Maio. então.
Dirá então que acontecesse o que acontecesse – e muita coisa iria acontecer - obviamente aquela festa de ilusões, aquele património, já ninguém lhe tirava.. Mais tarde dirá aos filhos que só quem viveu aqueles tempos de oásis, de miragens, perceberá o que foi o 25 de Abril. E não mais esquecerá aqueles dias luminosos em que tudo parecia ser possível.
Os jornais tentam dar notícia de tudo o que está acontecer, também do que virá.
Já foi extinta a PIDE/DGS, a Legião e as Mocidades Portuguesas, o povo persegue os pides nas ruas e, entregando-os às forças militares, são encarcerados em Caxias, conhecem a casa mas agora olham-na com uma perspectiva bem diferente, sabe-se que os funcionários públicos despedidos por motivos políticos serão reintegrados, começam a regressar os exilados políticos, os desertores querem voltar e pedem amnistia, Tomaz Caetano e outros ministros estão no Funchal a aguardar guia de marcha para o exílio, os trabalhadores tomam conta dos seus sindicatos, um decreto-lei determina que quem quiser sair do país só poderá levar 50 contos.
Há-de regressar a alguns destes acontecimentos.
Mas neste dia, há uma notícia que ofuscará tudo o resto, que encherá de alegria os portugueses: a Junta de Salvação Nacional faz publicar o decreto-lei que determina que o 1º de Maio será feriado nacional.
Durante a ditadura o 1º de Maio era um dia que trabalhadores e estudantes estavam impedidos de comemorar. Mas com coragem e determinação, aqui e ali, sempre encontraram forma de o assinalar, se bem que sujeitos a brutal repressão. Pedras e palavras de ordem contra bastões, espingardas, carros de combate.
A mudança estava mesmo a acontecer!
Nesta noite, Sá Carneiro será entrevistado pelo Tele-Jornal. Dirá ao povo para, no 1º de Maio, actuar disciplinada e ordeiramente.
No dia seguinte, no Canal da Crítica do “Diário de Lisboa, Mário Castrim escreverá que compreende a preocupação dos políticos, mas adianta:
“Depois, amigo Sá Carneiro, deixe lá o povo manifestar à vontade por esse país fora. Deixe-o mostrar a sua alegria, a sua vitalidade. Deixe-o à vontade matar a fome do pão que durante 50 anos lhe negaram. Tempos virão de trabalho e organização. Mas que se deixe, agora, que o Povo Português seja dono das ruas de Portugal e saborei a liberdade reconquistada. Então agora sem pide, sem Censura, sem prisões, então agora o povo não deve manifestar e cantar?
Amanhã é dia de festa. Viva o 1º de Maio!”
Que belas memórias, Gin. É interessante ver que estes jornais ficaram arquivados para memória.
ResponderEliminarRecordo através de testemunho de familiares alguns 1ºs de Maio da década de 60, com destaque para um folheto, distribuído discretamente com os dizeres: "aguentas, Zé?". Não querendo viver no desencanto, penso que a pergunta se aplicaria hoje a grande parte dos cidadãos.