
Uma velha amiga dizia-lhe que, essencialmente, os poetas eram outonais. Não discordou de todo mas, chato que é, foi adiantando que o Ruy Belo era, essencialmente, estival, e que o Eugénio d’Andrade, ia para dizer que era primaveril, mas disse-lhe que o Eugénio d’Andrade é de todas as estações. Por essa conversa antiga, pela Primavera que chegou, foi buscar um dos poemas mais antigos do Eugénio d’Andrade.
“Tu já tinhas um nome, e eu não sei
Se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.”
O relógio do “British-Bar”, o velho relógio, aquele que aparece em “ A Cidade Branca” e que o antigo dono levou com ele,o que agora lá está é um cópia não fiel… o gin era “Tanqueray,” o Silva a lembrar-lhe que o “Tanqueray” era mais caro, como se ele não soubesse…. As tardes corriam e, agora, como na canção dos beatles, “grandechildren on your knee, e quase, quase poderá dizer, sim “when I’m sixty four”. E agora que a Primavera chegou concluir que o importante era quando estava à espera dela. Assim como aqueles livros que andamos a ler, de que gostamos, que nos entusiasma até mais não, e ficamos desesperados porque chegou ao fim, quando o que era mesmo bom estava no tempo em que o líamos, o saboreávamos, enquanto o líamos é que era… e nasce uma tristeza cinzenta…
Agora é ficar à espera que os gafanhotos apareçam, gafanhoto que em francês é uma palavra deliciosa – grasshopper. O pai dizia-lhe que um homem tem que viver sempre com um pé na Primavera. Passar o tempo a pensar nisto. Suavemente. De quem sabe que não pode passar sem estes cheiros da primavera, este borbulhar de vida reacendida, memórias. Há paixões assim. Dizem que são as melhores…
Conheço pouco de Ruy Belo (embora aprecie o que dele li), daí não o ter associado ao Verão. Eugénio de Andrade será sem dúvida o poeta da Primavera e ocorreu-me de imediato um poema cujo título é Abril.
ResponderEliminarPor outro lado, acrescentaria ainda a existência de "poetas matinais e marítimos" como é o caso da tão pessoalmente apreciada Sophia.
Compreendo a velha amiga do gin, pois o Outono é a estação por excelência: a luminosidade é diferente (pela nitidez que surpreende) e por cá as folhas têm tonalidades vermelhas e alaranjadas que nunca deixam de espantar (mas isso será mais uma opinião subjectiva que surge por associação à primeira afirmação do post)