25 de março de 2009

mas quem é que lhes pediu para inventarem?

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m. estava na estação.
o dia era de canícula como só este quase interior consegue ser.
o ar rarefeito torna a respiração difícil e a tensão baixa rapidamente. o suor que escorre pela cara que começa a ficar pálida.
as pernas tremem e a visão turva com tudo em tom sépia e os sons cada vez mais vagos.
de repente o nada.

a agitação no largo aumenta com aquela mulher deitada no chão.
chama-se a emergência médica que rapidamente coloca a senhora numa maca com respiração artificial.
a imagem da mulher com aqueles tubos em volta chama mais curiosos, que curiosos somos todos quando a desgraça é nos outros.
apressados, os paramédicos dizem que têm que levar a senhora para o hospital; que só uma pessoa a pode acompanhar.
dois homens aproximam-se e a médica repete: só uma pessoa a pode acompanhar. se estiver o esposo (que é o nome que nestas terras chamam aos maridos) será aconselhável.
e de novo os dois homens se aproximam.
a calma da médica mantém-se e repete: só pode vir o esposo.
e os dois homens insistem.
e por ali continuam, insistindo ambos na sua condição de esposos da senhora.
a mulher entubada, o espectáculo montado, a curiosidade instalada, os dois homens esposos insistentemente em posição e a emergência médica impaciente.

ou os riscos de quem tem dois maridos como a dona flor.
só que os dois vivos e não a aparecer a rir por cima do armário enquanto geme nas mãos do tocador de fagote.

o risco, ou o efeito borboleta que desencadeia toda esta tragédia, é o esposo de frança vir a casa sem que seja possível organizar a vida de modo a que um não saiba e o outro não desconfie.

mas que mania estúpida esta dos homens de fazerem surpresas.
mas quem é que lhes pediu para inventarem?

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