22 de fevereiro de 2009
SÍTIOS POR ONDE ELE ANDOU
Sabia que o “Quarteto” tinha fechado em Novembro, estavam, no entanto, a tentar uma qualquer reinvenção, um projecto que recuperasse o espírito original do espaço, a tentativa de a Câmara classificar o “Quarteto” como espaço de interesse cultural. Mas nunca mais ouviu falar desses projectos, o maldito silêncio que neste país cai sobre tudo o que a cultura diga respeito.
Ao descer a Avenida dos Estados Unidos calhou olhar à esquerda, sim para a Rua Flores Lima e, na porta do Quarteto viu o letreiro: “VENDE-SE”. Assim como um murro no estômago a doer muito.
A inauguração das quatro salas do “Quarteto” em 21 de Novembro de 1975 foi um acontecimento, uma lufada de ar fresco Foi ali que conseguiu ver os filmes que não passavam nos outros cinemas, foi ali que descobriu outros cinemas, cinematografias alternativas até então desconhecidos, era ali que nos encontrávamos, sessões duplas da meia-noite, “matávamos” a fita e íamos para os comes, bebes e conversatas para a Avenida de Roma, até às tantas, quase “directas”. Pertencer a uma geração que se rodeava de vinhos, cigarros, livros, musicas e cinema, acima de tudo o cinema, algibeiras cheias de sonhos e utopias
Vão desaparecendo os espaços, vão desaparecendo os amigos, as coisas são mesmo assim…Não há poesia que salve este andar inexorável para ali… a travessia que se tem de fazer…apenas isso, ou se calhar nem isso… sabe lá o quê… em Fevereiro de 2009, ferido de nostalgia, apetece-lhe dizer, como o Eduardo, que naquelas quatro salas estarão alguns dos melhores anos da sua vida.
Não sabe que há-de escrever mais, mas apetece-lhe finalizar, sabe lá ele porquê – ou sabe? - com as palavras de um telegrama na “Cidade Branca” do Tanner:
“Volto à superfície, stop; Rosa partiu não sei para aonde, stop; o único país de que gosto verdadeiramente é o mar, stop; amo-vos, stop; amo-te, stop; beijo-te ternamente, stop; o corpo duma mulher é demasiado grande, stop; a recordação e o esquecimento têm a mesma origem, stop; as mulheres são demasiado belas, stop; os comboios não partem à tabela, stop; não sei mais do que dantes. Stop.
Que bom reacender- mesmo que através de um post - a memória do Quarteto! Um cinema fora da devastadora tentação comercial. Ginsberg sempre soube que não era inocente a pergunta "quando posso comprar o que preciso só com o meu carisma?". A tradução está mal feita, mas a essência da pergunta permanece. O lucro é um bulldozer que tudo cilindra (e pegando em Tanner eu acrescentaris "stop").
ResponderEliminarLembro uma outra sala que, mais tardiamente, era um atractivo: o cinema Mundial que teve por mais de um ano em exibição "O Carteiro de Pablo Neruda", para não tornar o comentário num lençol preenchido por uma listagem exaustiva.
O Quarteto foi, para mim, o último "baluarte" do que considero ritual da ida ao cinema.
ResponderEliminarFoi pena ter desaparecido. Terá faltado algo para lhe permitir a sobrevivência. Não sei o quê. Sei que a última vez que lá entrei, pouco tempo antes do seu encerramento, o lugar dava pena. A projecção feita em condições miseráveis, tudo com ar de fim de festa. Aparentemente o encerramento deve-se a problemas de segurança.
ResponderEliminarSeja. Ainda há muitos sítios onde ver bom cinema, e em boas condições. Na verdade, e feitas as contas, cada vez há mais. Mesmo descontados os espaços alarves para comer pipocas. E continua a fazer-se bom cinema. Haja esperança.
Condições de segurança zero. Sempre foram. Ainda há o King:)
ResponderEliminarQue magnifico post!
ResponderEliminar(...). pois, ainda há o king.