nazim hikmet é um dos melhores poetas que passaram pelos meus olhos.
descobri-o por acaso no meio de uma citação de outro poeta.
e fui-lhe no encalço.
li-o mais em inglês e francês que em português (há um excelente livro editado pela caminho, 'os românticos').
como acontece com muita gente (acho eu), tenho alguns poemas, frases, partes de textos de livros, que me acompanham pela vida.
este 'on living' é uma espécie 'guia para um homem sério' que me acompanha mentalmente.
sabem que não sou de poesias, mas também sabem que gosto de me contradizer.
como lembrança tardia da recente (o mês passado) devolução da cidadania turca a nazim hikmet (que lhe tinha sido tirada em 1951), e poucos meses antes de se fazerem 40 anos da sua morte, aqui vou posto um poema que, para mim, é muito mais que um poema:
ON LIVING
I
living is no laughing matter:
you must live with great seriousness
like a squirrel, for example-
i mean without looking for something beyond and above living,
I mean living must be your whole occupation.
living is no laughing matter:
you must take it seriously,
so much so and to such a degree
that, for example, your hands tied behind your back,
your back to the wall,
or else in a laboratory
in your white coat and safety glasses,
you can die for people-
even for people whose faces you've never seen,
even though you know living
is the most real, the most beautiful thing.
i mean, you must take living so seriously
that even at seventy, for example, you'll plant olive trees-
and not for your children, either,
but because although you fear death you don't believe it,
because living, i mean, weighs heavier.
II
let's say you're seriously ill, need surgery -
which is to say we might not get
from the white table.
even though it's impossible not to feel sad
about going a little too soon,
we'll still laugh at the jokes being told,
we'll look out the window to see it's raining,
or still wait anxiously
for the latest newscast ...
let's say we're at the front-
for something worth fighting for, say.
there, in the first offensive, on that very day,
we might fall on our face, dead.
we'll know this with a curious anger,
but we'll still worry ourselves to death
about the outcome of the war, which could last years.
let's say we're in prison
and close to fifty,
and we have eighteen more years, say,
before the iron doors will open.
we'll still live with the outside,
with its people and animals, struggle and wind-
I mean with the outside beyond the walls.
i mean, however and wherever we are,
we must live as if we will never die.
III
this earth will grow cold,
a star among stars
and one of the smallest,
a gilded mote on blue velvet-
i mean this, our great earth.
this earth will grow cold one day,
not like a block of ice
or a dead cloud even
but like an empty walnut it will roll along
in pitch-black space ...
you must grieve for this right now
-you have to feel this sorrow now-
for the world must be loved this much
if you're going to say ``i lived'' ...
tradução de randy blasing e mutlu konuk
o nazim hikmet é realmente um poeta brutal:)
ResponderEliminarJá em 2005 pensavas e escrevias assim, risos.
ResponderEliminarjá em 197o pensava assim.
ResponderEliminarhá coisas que não mudam
:)
Pensamentos em voz alta desconhecidos até leitura do post. Talvez assim possam ser considerados para lá da designação de poema, pois estas reflexões soam por terem ritmo marcante .
ResponderEliminarPara quem nunca desliga da pertença a um colectivo humano – o que não impede o prezar-se, cada vez mais, o isolamento voluntário – esta voz coloca uma questão inquientante:”quantos já tentaram explicar a si próprios o significado atribuído ao conceito pessoal de vida?”
- parece estranho que muitos se projectem em exclusividade no futuro ou num Paraíso Prometido (parece-me perder-se aqui a essência nutritiva essencial a todos os momentos);
- torna-se inquietante pensar se quem leva vidas infra- humanas (não se restringindo as mesmas às latitudes erradas do planeta) terá capacidade de equacionar a pergunta;
- gera-se um incómodo quando, cada vez mais, nos cruzamos com multidões de semblante derrotado, a quem chega a incomodar notas dissonantes de alguma(s) alegria(s) mais individualizada(s);
Algumas perguntas surgem ainda:
- ficar, sem contabilizar o tempo, a olhar para uma aranha que tece a teia ou para um lagarto que aproveita o sol será menos sábio do que contar os dias até poder comprar o carro de sonho?
- encontrar algum sentido quando se transmite alegria a um grupo de família, amigos, comunidade ou a simples conhecidos numa viagem poderá ser aberrante?
Construir sentidos numa cela prisional já tem levado a acesos debates (alguns já testemunhados), mas não será o filme “A Vida é Bela” um exemplo do “yes, some of us can?”(é que o cinema, à excepção do "Star Wars" não se encontra assim tão desligado da realidade)
Receando ter gasto todo o “stock” de lençóis (e atoalhados) do mercado (e arredores), parece ter o texto de Hikmet a propensão para originar um tratado de 20 volumes que nunca viriam a ser lidos, ao contrário deste "pensar com a voz" que perderia, em modesta opinião, caso viesse a ser traduzido para Português. (já diziam os antigos: tradutore/traditore)
Tks pela divulgação:)
em tempos muitos idos fiz uma espécie de tradução deste poema.
ResponderEliminarobviamente impublicável mesmo que soubesse onde ele andava.
posso pedir o especial favor à nossa lebre para o fazer (coisa que deve chegar para ela me chamar maluco 500 vezes seguido dumas 501 negativas).
talvez com sorte e dizendo que o quero como prenda de anos...
como diz a t, já aqui tinha falado nele e já tinha falado, acho que mais que uma vez no nazim hikmet.
desta vez fui à procura dele a propósito duma fita que tenho que preencher para a joaninha...
Caro Carlos:
ResponderEliminarÉ uma pena essa tua tradução do poema de Nazim Hikmet andar perdida. Certamente estará muito melhor que a leitura que ele faz do poema, no seu inglês de marinheiros.
A primeira vez que viu o nome de Nazim Hikmet foi no álbum “Apocalipsis” dos “Aguaviva”, princípios da década de 70: “No nos dejan cantar Robeson, mi canário com alas de aguila”.
Por motivos que não consegue explicar não tem um único livro de Nazim Hikmet. Aliás tem a vida cheia de coisas inexplicáveis como esta de Hikmet ser uma lacuna nestas estantes.
Tem por aí poemas soltos, bocados de jornais. Terá que dizer que isto lhe dói, porque Hikmet passeou-se pelos caminhos que sempre percorreu.
Terás visto bem, se não estará no fundo do baú onde encafuamos coisas à pressa?