Se os tolos reconhessem o estílo tiki/lounge não davam esses risinhos de grunhos. Universo «exotico» que nos remete para uma espécie de «world music avant la lettre», concebida por desígnio divino no Hawai, na esplanada do Dagger Bar, de Don the Beachcomber. Martin Denny, um dos cultores do género, nasceu em Nova Iorque e estudou com tão insignes mestres como Doctor Wesley La Violette (professor de piano e contraponto, fervoroso crente na teoria da reencarnacão e tradutor do épico sânscrito Bhagavad Gita) e Doctor Arthur Lange (especialista da instrumentacão para «small combo» e expoente máximo da sinestesia tal como a Sociedade Teosófica a entendia). No início, enquanto pianista, acompanhou luminárias extraordinariamente ignoradas com The Incomparable Hildegarde, mas foi em Honolulu que lhe ocorreu a ideia de conjugar timbres polinésios, africanos, orientais, árabes, vibrafones jazzy, o coaxar das rãs, o canto dos pássaros e uma visão do mundo como Disneylandia sonora, para fornecer o pano de fundo musical sob o qual os turistas debicavam pipocas e lendário surfista Duke Kahanamoku bebericava Blue Hawaiians. Em 1959, James A. Michener escreveu-lhe as «liner notes» para o álbum Hypnotique («Esta é musica para ser vista e, neste disco, há muitos sons novos que obrigarão o ouvinte a criar as suas próprias imagens verbais»), Sammy Davis, Xavier Cugat ou John Sturges alimentaram a lenda e, numa íntima relação com Les Baxter, encarregou-se de popularizar ao vivo as ideias que o outro concebia no laboratório do estúdio. Modernos discípulos como os Beach Boys, Devo, Yellow Magic Orchestra ou Combustible Edison prolongaram o mito. Mas não há como escutar «Quiet Village», «Bali Hai», «Ringo Oiwake», «Oro (God of Vengeance»), «Llama Serenade», «The Left Arm Of Buddha», «Mau Mau», «Tse Tse Fly» ou «Voodoo Love» para compreender como o mundo, muito antes da aldeia global, já tinha deixado de ser o que é. E os parvinhos deviam perceber isso.
Isto não é um bar na Almirante Reis? Acho que se chama Bora-Bora, ou qualquer coisa do género. Será?
ResponderEliminarBora Bora, ali ao pé da Alameda
ResponderEliminarO Bora-Bora ou o Tangaroa que é mesmo ao lado.
ResponderEliminar... e ainda servem aquelas bebidas que deitam uns fumos? risos
ResponderEliminarMas o primeiro Bora-Bora foi na rua da Madalena.
ResponderEliminarBons tempos.
Se os tolos reconhessem o estílo tiki/lounge não davam esses risinhos de grunhos. Universo «exotico» que nos remete para uma espécie de «world music avant la lettre», concebida por desígnio divino no Hawai, na esplanada do Dagger Bar, de Don the Beachcomber. Martin Denny, um dos cultores do género, nasceu em Nova Iorque e estudou com tão insignes mestres como Doctor Wesley La Violette (professor de piano e contraponto, fervoroso crente na teoria da reencarnacão e tradutor do épico sânscrito Bhagavad Gita) e Doctor Arthur Lange (especialista da instrumentacão para «small combo» e expoente máximo da sinestesia tal como a Sociedade Teosófica a entendia).
ResponderEliminarNo início, enquanto pianista, acompanhou luminárias extraordinariamente ignoradas com The Incomparable Hildegarde, mas foi em Honolulu que lhe ocorreu a ideia de conjugar timbres polinésios, africanos, orientais, árabes, vibrafones jazzy, o coaxar das rãs, o canto dos pássaros e uma visão do mundo como Disneylandia sonora, para fornecer o pano de fundo musical sob o qual os turistas debicavam pipocas e lendário surfista Duke Kahanamoku bebericava Blue Hawaiians. Em 1959, James A. Michener escreveu-lhe as «liner notes» para o álbum Hypnotique («Esta é musica para ser vista e, neste disco, há muitos sons novos que obrigarão o ouvinte a criar as suas próprias imagens verbais»), Sammy Davis, Xavier Cugat ou John Sturges alimentaram a lenda e, numa íntima relação com Les Baxter, encarregou-se de popularizar ao vivo as ideias que o outro concebia no laboratório do estúdio. Modernos discípulos como os Beach Boys, Devo, Yellow Magic Orchestra ou Combustible Edison prolongaram o mito. Mas não há como escutar «Quiet Village», «Bali Hai», «Ringo Oiwake», «Oro (God of Vengeance»), «Llama Serenade», «The Left Arm Of Buddha», «Mau Mau», «Tse Tse Fly» ou «Voodoo Love» para compreender como o mundo, muito antes da aldeia global, já tinha deixado de ser o que é. E os parvinhos deviam perceber isso.
Agradeço a contextualização deste movimento. Volte e escreva sempre, que os parvinhos, tolos e grunhos gostaram de o ler.
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