20 de novembro de 2008
Tocados pela magia
Há momentos assim em que o tempo parece parar e quase que são atiradas para o balde de reciclagem muitas das questões pragmáticas do nosso quotidiano.
Há momentos assim, tempos breves a ganhar uma dimensão intemporal, trazendo-nos um sorriso que acaba por contagiar sem que os outros se apercebam conscientemente do processo.
Há momentos assim em que, após o “chamamento à Terra” e já de volta às exigências rotineiras, parecemos renovados e aptos a cumprir, sem esforço, tarefas nem sempre interessantes.
Há momentos assim: estação de metro, fim de tarde de Novembro, os passageiros saem apressados dirigindo-se às diferentes saídas.
Há momentos assim: num recanto um pouco mais espaçoso da estação, um trio de cordas, sopro e vocalista são os mágicos responsáveis pela mudança dos que saíram do comboio.
Há momentos de bossa/jazz numa acústica extraordinária proporcionada por estes locais.
Há momentos em que tudo pára: jovens mães com crianças calmamente a ouvir, sentados no chão, pessoas de várias idades e culturas ligadas por uma linguagem universal – a música.
Há momentos assim: Samba de uma Nota Só em registo “jazzístico” – silêncio ...aplausos...
Há momentos assim: o trio sorri sempre e sai música com a mesma naturalidade com que todos respiramos, suspensos, seguindo-se I’ve got you under my skin.
Há momentos assim que, tendo deixado para trás um pequeno compromisso a realizar me decidi a ficar por ali, sem que depois o fascínio e a calma me tivessem trazido à memória o simples poema de Miguel Torga:
A cena é muda e breve.
Num lameiro
Um cordeiro
A pastar ao de leve.
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Embevecida,
A mãe ovelha deixa de remoer
E a vida
Pára também, a ver.
Há momentos assim: metro do Campo Grande, 19 de Novembro, 17.45.
Há, de facto, momentos assim: tocados pela magia.
ResponderEliminarObrigada por me ter tocado durante uns momentos com a magia destas palavras nascidas de uma pessoa cheia de sensibilidade.
Um abraço!
Rosarinho,
ResponderEliminarAinda bem que as palavras chegaram com algum sentido, por deformação profissional aspiro sempre a que a comunicação "comunique".
Abraço