Aurélia:
Conhecia-a com respeitável idade, é pequenina, resistente, conversadora.
Uma energia invejável que poderia iluminar os vindouros.
Passou pela vida nos limites da resistência, vinda jovem de serras algarvias, ocupando quartos alugados de onde se mudava quando o dinheiro não chegava ao fim do mês.
No chapelaria onde trabalhava, na baixa lisboeta, levava diariamente merenda de linguiça e pão escuro, ração económica que lhe permitia a subsistência.
Ria e cantava, tendo como lema diário: "tristezas não pagam dívidas".
N'Gunza
Estafeta de profissão na grande cidade africana, a brancura do sorriso a sobressair de escura pele, idade indefinida. Na enorme empresa sorria diariamente, pequeno raio de sol entre computadores e maquinaria, tendo-me adoptado, em idade dos seus filhos mais velhos, como "tia Teté".
No dia em que parti, houve festa surpresa lá pelo departamento e não pude deixar de o convidar.Um dia, por modernices e conveniências climatéricas, quando o edifício foi pintado de uma brancura sem mácula, confidenciou-me: "tché, tia, prédio branco é hospital de malucos!"
Manuela
Pré-adolescente, vivendo na área rural da grande Lisboa, apresenta-se na escola sem vacinas actualizadas. Contactada a família formada por humildes trabalhadores criadores de gado, ouve-se a resposta convicta: "não vacinamos a nossa miúda porque o vizinho do lado chamou o veterinário para vacinar os animais e, passado pouco tempo, eles adoeceram."
(os nomes das personagens são fictícios)
a 'manuela' podia ser filha numa qualquer filha de alemães, ou austríacos, ou holandeses que pululam pela serra do açor e se recusam a deixar vacinar os filhos alegando que o corpo deve criar defesas naturais contra as doenças e uma ervas fazem as vezes das vacinas.
ResponderEliminarhá uns anos (poucos) participei numa discussão com um desses em que o médico ameaçava que iria mandar a gnr buscar os filhos para serem vacinados e participar dos pais por maus tratos (médicos) aos filhos.
provavelmente os pais devem ser uns licenciados numa qualquer bodega na terra deles e muito civilizados quando vão de férias.
Dou graças por N'Gunza nunca ter visto de que cor pintei as paredes interiores da minha casa.
ResponderEliminarCarlos,
ResponderEliminara manuela podia ser uma jovem alemã, ou nem tanto, pois a opção em "não vacinar" fundamenta-se em teorias diferentes, embora o absurdo seja realmente "não vacinar".
Conheci os donos do extinto restaurante "A Biológica" , portugueses com escolaridade que ainda não tinham registado a filha de 3 anos, pois era a forma de contestarem o sistema...
Rosarinho,
se o N'Gunza ou Miguel, como alguns lhe chamavam, viesse a Portugal e me visitasse, tamnbém incluía a minha casa no rol das instituições psiquiátricas (quanto à opção de pintura das paredes exteriores):)
eu acho muitíssimo bem que as pessoas protestem contra o sistema.
ResponderEliminarmas com o corpo e com o futuro delas.
do mesmo modo que discorde (embora aqui ache menos grave) que se baptizem as crianças que não podem escolher a sua religião, acho que cada um de nós pode (e deve) tomar para si a decisão de receber ou não vacinas, de faltar ao dia da defesa nacional, de pagar os impostos.
mas não tem direito de não registar os seus filhos e não tem direito a não os vacinar.
os filhos não são nossa propriedade.
não somos donos deles.
temos sim responsabilidades.
e uma delas é deixar que sejam eles a escolher as suas lutas no futuro.
esse caso seria suficiente para eu não por os pés nesse restaurante. seguramente