por alguma razão estranha que me escapa, o mundo visto de fajão não é igual ao que vejo de outros locais.
este fim semana estava a ler uma espécie de troca de opiniões sobre o fecho de livrarias grandes e pequenas e sobre a falta que fazem a uns e outros não e tive aquela sensação estranha de achar que todos nós temos imensas coisas a mais. que podiamos livrar-nos de muitas coisas e ainda assim teriamos a mais.
eu sei que isto é uma coisa que pode ter a ver com uma atitude deliberada da minha parte quando decidi ir trabalhar para outras paragens: a minha 'vida' cabe numa mala e um pequeno 'anexo' que se mantém no carro para eventuais necessidades. tenho, deliberadamente, deixado de comprar discos (coisa que para quem me conheça deva achar próximo do impossível), muito menos livros ou dvd's. na verdade tenho imensos que será muito mais útil voltar a ler, ouvir ou ver do que comprar novos. o meu 'closet' cabe nessa mala e tenho-me sentido particularmente bem.
tinha começado a escrever que acho que a byblos faz muita falta, do mesmo modo que faz falta a pequena livraria do fundo da rua. que ambas devem ter sido criadas com o mesmo amor aos livros.
numa, um homem que dedicou a sua vida aos livros, 'enterrou' todo o dinheiro que recebeu da venda da sua editora (que muitos e bons livros editou) num sonho de ter à venda ao público o fundo editorial das editoras. era um trabalho meritório, mal compreendido e muito mal localizado.
mas o problema da byblos é muito parecido com o das pequenas livrarias.
neste momento a actividade livreira está na mão das cadeias de lojas que negoceiam cada montra, cada espaço nas mesas centrais, cada tempo de exposição de um livro.
tudo isso hoje é pago como o linear dum supermercado.
literalmente.
a meritória ideia de trabalhar com fundos de colecção foi, infelizmente, fatal.
hoje lê-se muitíssimo mais que se lia há uns anos. cada dia mais.
mas lê-se principalmente as estrelas da escrita.
é uma espécie de literatura pop.
com lantejoulas e neons...
o que tem isto a ver com fajão?
que lá tudo isto é muito distante.
este fim de semana fiquei preocupado porque as bilhas de gás já não estavam simplesmente num terraço à disposição para eu ir buscar a meio da noite e pagar na manhã seguinte: passou a existir um cadeado.
as obras recentes trouxeram muita gente estranha e algumas bilhas passaram a vir equipadas com asas.
isso é que é preocupante quando se vê o mundo a partir de fajão.
o outro dizia que a vida é feita de pequenos nadas.
de grandes nadas, a maior parte das vezes.
Fajão também está a mudar...
ResponderEliminarNão há nada melhor do que ter de mudar de casa, com alguma frequência, para nos apercebermos de que não necessitamos nem de 1/10 das coisas que vamos guardando, para vivermos com conforto.
ResponderEliminarEssa das botijas voadoras, em busca de gente com menos escrúpulos, tira algum encanto ao mundo visto de Fajão.
felizmente fajão ainda tem imensos encantos :)
ResponderEliminarum dia destes ainda temos que cumprir um almoço de blog no 'juiz'
:)
Botijas voadoras. Com asinhas, tipo anjinho barroco, a esvoaçar por entre as serras. Confesso que a ideia não me desagradaria, não fora a implicação de gamanço associada...
ResponderEliminar"Botijas voadoras"? Nem Magritte (Dali, etc.) se terá lembrado de tal...:)
ResponderEliminarQuanto aos encantos de aldeia, subscrevo-os e pratico-os diariamente, mesmo que cadeados e alarmes tenham passado a fazer parte da nossa existência.
(preocupante mesmo será quando os restaurantes típicos destas lindas terras ficarem convertidos em cadeias de franchising)
Ainda há muitos lugares, onde se vê o mundo de modo parecido , como em Fajão. E onde ainda não chegaram os cadeados para que as bilhas que voam (será por serem aquelas muito levezinhas que até uma menina muito bonita consegue transportar com facilidade, num anúncio de TV? :-D
ResponderEliminarMas existem ainda lugares, na Serra em que durmo de porta no trinco. Em que nem existem chaves nos quartos (eu que até me tranco na minha casa de banho :-D).
Existem lugares que ainda são como Fajão já foi. Só não sei até quando...
O mundo está mesmo em mudança. Permanente. COMO NÓS!
Quem diria, há uns tempos atrás, que deixaria de comprar discos e livros?
A mim também me acontece. Tenho a sorte de ter quem me empreste livros, porque raramente me apetece reler os que tenho. Curiosamente a maioria dos livros que tenho, comprei-os depois de os ter lido, por empréstimo. São uma das minhas (múltiplas) paixões.
Preocupante é de facto , a crise que vivemos e que por razões que desconheço, quem de direito não parece interessado em resolver.
Preocupante é quando os interesses particulares se sobrepõem aos interesses da comunidade, por parte de quem governa.
Preocupante é ver não só este País, mas o mundo, com uma inversão de valores e de princípios.
Confesso, no entanto, que neste preciso momento, estou egoísticamente preocupada como um teste de Fisiologia Vegetal, porque não há meio de conseguir entender o Metabolismo do Carbono das Plantas C3, C4 e CAM.
Então, Voo por estes Dias, para me relaxar e preparar para o estudo, escrevinhando coisas que não interessam a ninguém....
Abreijos