25 de novembro de 2008

Memórias da cidade branca

... e porque nem sempre realçamos na juventude de XXI aquilo que nela merece ser cantado em alta voz, tomei a liberdade de me apropriar da colectânea Olhares da Lua, da responsabilidade de uma equipa da Escola Secundária de Sintra e transcrever uma de múltiplas e jovens vozes que celebram espaços, sentimentos, vivências... Algumas dessas palavras resultantes de inspiração colhida por quem muito repousa o olhar sobre o "Monte da Lua" apresentam uma assinatura. Outras, refugiadas no silêncio do anonimato - sendo este o caso - , identificam-se através de (mais) uma máscara na acepção de Pessoa:
Lisboa
Quando se canta o fado nas ruas lisboetas, nas tascas, nas velhas tabernas banais que fazem já parte da bebedeira...Ai... esta fragrância de cidade já tão eterna e antiga. Os marialvas perdidos de bêbedos, felizes e desgraçados, descendo as ruas do Bairro Alto. Que visão, que vida, que me traz o coração na boca!
As casas que se pintam nesta tela, simples, pintadas pelo mais magnífico artista. Por entre as flores que penetram as suas janelas ainda se ouve o coscuvilhar das velhas... Os teatros do Chiado que se enchem com fidalgos quando há ópera.
Quando se passa pelo Conservatório, na rua dos Caetanos, fazem-se ouvir os pianos, os violinos gritam e um canto impõe o seu timbre, ouve-se o ranger das tábuas do soalho deste edifício de música e cultura. E à noite, as luzes encandeiam os gatos que vadiam. Dançam eles, namorando o Tejo, esperam que não amanheça, doidos destas ruas, vivem ao sabor do álcool, do fado, da minha terra. Lisboa.
Aluna, 16 anos.

4 comentários:

  1. E olha que bela e interessante postadora deveria ser esta aluna, então com 16 anos, para os "Dias Que Voam". Alguém que lhe vá no encalço... se possível... mas isso é pelouro da T. guardadora e vigilante do blog
    Bom golpe de asa, Teresa, excelente esta ideia. Pano para mangas?

    ResponderEliminar
  2. Gin,
    A aluna não se quis mesmo dar a conhecer, embora a antologia tenha outros textos interessantes de alunos de várias idades, sendo que alguns se identificam.
    Escolhi este exemplo, mas há inúmeros com mérito, penso eu (de que):)

    ResponderEliminar
  3. Devo estar a ficar a velho e não me apercebi, porque quando li que a autora do texto tinha 16 anos a primeira ideia que tive foi: 'apesar de tudo' (ainda se salvam alguns, eh, eh, como se não houvesse de tudo nesta geração como em todas).

    ResponderEliminar
  4. Parabéns à jovem por tão bela prosa!
    Tem uma escrita muito viva, sensível e harmoniosa.
    Dá vontade de adaptar este excerto:
    "As casas que se pintam nesta tela, simples, pintadas pelo mais magnífico artista."
    E remetê-lo para o talento da jovem autora: As palavras que se pintam neste texto-tela, simples, pintadas pela mais magnífica escritora-artista.
    A jovem promete!
    Parabéns!

    ResponderEliminar