14 de novembro de 2007

deo gracias, anglia, ou de como dos mitos fabricados podem vir coisas boas


há muitos anos atrás, andava eu com um grupo de amigos que se dedicavam à recolha de música popular ali para os lados da beira baixa.
estavamos acampados na aldeia do barco, fundão, mesmo junto ao zêzere e daí fazíamos incursões pela zona de lavacolhos, souto da casa, silvares, para recolhas de músicas.

um dia alguém apareceu com a partitura duma canção do começo do século 15 inglês.
tratava-se duma canção comemorativa da vitória inglesa na batalha de agincourt, em que o exército de henrique V bateu os franceses.
de acordo com os ingleses, tratou-se de várias coisas entre o milagre, a dádiva divina e o génio militar de henrique v, levada ao extremo do delírio exaltador com shakespeare a colocar no final do seu 'henrique v' o rei a falar de 10.000 mortos franceses contra 29 ingleses..).
destes mitos também tempos por cá (a batalha de ourique ou a padeira de aljubarrota..), embora nenhum com esta amplitude de basófia  inglesa.
de acordo com o último grande estudo sobre o assunto ('agincourt, a new history, publicado em 2005), anne curry refere que essa correlação seria de 8 a 9 mil ingleses para 12 000 franceses.
o mito foi fabricado por henrique v para construir a sua imagem de rei forte.
a grande vitória, ainda assim, deveu-se a dois factores:
pelo lado dos franceses, um erro de casting (num terreno tão enlameado como aquele, aparecer de cavalos e guerreiros com pesadas armaduras era estar derrotado antes de começar).
pelo lado dos ingleses, principalmente armados com arqueiros, é a prova de como um grupo menos 'pesado' se torna muito mais maleável e quase impossível de bater se conseguir manter a sua capacidade de movimentação e 'multiplicação'
provavelmente a primeira grande vitória da 'movimentação' de guerrilha contra um exercito numa batalha convencional.
seja como for, esse dia ficou imortalizado por peças de teatro, filmes... e esta canção de autor desconhecido.

foi o meu primeiro contacto com a musica medieval inglesa. e por cá ficou.
nós cantávamos com um pouco mais de garra (achavamos nós), pêlo na venta próprio da idade e da atitude de quem se achava portador das verdades

fica o exemplo para que talvez passem a gostar da música antiga inglesa.

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