17 de agosto de 2007

Está a modorra instalada apesar do vento. Uma estranha misturada de gentes invadiu a cidade e enroscaram-se entre a gente. No feriado, enquanto estava com as sobrinhas na Bénard, entretivemo-nos como é hábito a ver os passantes. Portugueses mesmo, acho que éramos só nós as três. Mas entre o rodopio da Rua Garrett, ainda conseguimos distinguir conhecidos. Menos mal. Lisboa é mesmo assim.
Não há notícias, não há nada de empolgante, reservem-se as novidades para a rentrée. Céus, que maçada.
Nos hipermercados perfila-se o regresso às aulas e recordo a minha intensa alergia infantil ao fim anunciado das férias. Enfadonho consumismo regrado.
Li algures, no Abrigo da Pastora, uma pergunta que me fez sentido. O "Confesso que vivi" equivale a declararmo-nos prontos para partir?
Faz-me sentido esta pergunta, mas não no senso da despedida. Talvez uma justificação expedita da inércia que nos permite a idade. Um pensar que já experimentámos tanto, embora tenha sido tão pouco, que nos torna legal a preguiça. Eu confesso que me envolvi numa teia de aranha, recheada de recordações e de aconchegos. Agarro-me a ela. Ao prazer de ver a pequena M a crescer, inteligente e viva e de saber que em breve o rapaz dos três nomes nascerá. À necessidade de tranquilidade e de algum isolamento para me sentir totalmente bem. Uso muito o verbo confessar,não para regularizar contas passadas, mas porque me apetece fazê-lo. E estava a pensar que já não se usa beber um refresco. Mas, em última análise, o acto de confessar-me é refrescante. Porque admito que há muito para viver. Ou começo a fazê-lo. Sem pecado e sem inocência. Grande Natália Correia.

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