13 de julho de 2007

O engraxador



Quando era miúda adorava o ritual dos engraxadores. Ia com o meu pai e assistia, ao convívio e cavaqueira a progredirem, enquanto os sapatos adquiriam a polidez e o brilho indispensáveis. Era no engraxador que se actualizavam as notícias próximas ou longínquas. Ponto de encontro privilegiado, sem grandes barreiras sociais.
Sentia também uma certa solidariedade corporativa: quando queria ganhar uns cobrezitos para comprar livros, as minhas tarefas eram engraxar sapatos e arear pratas. Talvez por isso seja agora muito refractária a exercer essas actividades.
Agora rareiam os engraxadores. Pelo menos a este nível. A outro, continuam a prosperar neste pais de coluna mole e de songamonguice aplicada . Enervantemente.

Foto: Arquivo Municipal de Lisboa

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