Uma sopa de pepino, couve e beterraba, acompanhada por meias luas de courato, pão preto, natas ou margarina. Águas. E também uma garrafa de vodka com um rótulo de cores horríveis, contrapostas à tentação de beber que Carvalho reprimiu após uma ameaça de náusea. Mas a comida caíra-lhe bem e predispôs-se à s revelações que pudesse fazer-lhe Malena, sentada no outro lado da mesa, na primeira penumbra deixada pelo redondel.
Milénio I. Rumo a Cabul
Manuel Vasquez Montalbán
Outro dia li num blog que a predisposição para escrever policiais no fim da vida, no caso referiam Bertrand Russell, era um sinal evidente de declínio ou preguiça ou acomodamento.
Montalbán é um escritor que demonstra o contrário desta teoria. Escrita soberba, crua, cheia de entrelinhas saborosas, um palador espanhol. Tanto escrevia policiais como outra obra qualquer, fosse até a biografia de Franco ou a um manual de cozinha erótica. Igualmente bem.
Morreu demasiado cedo. Gosto muito desta sua fotografia, em que se esconde atrás de outra grande paixão sua: a gastronomia.Mas Montalbán não é para todos, assim como a sua comida.
Emoções fortes, pois então.
Foto de Ferdinando Scianna, 1996, Espanha
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