22 de novembro de 2006
l'harmonie des nations ou la grande bouffe da música?
não fora a quantidade imensa de chuva que tem caído nos últimos dias, e certamente todos já teriamos notado a água que corre no triângulo belém-chiado-av.de berna pelas lágrimas dos melómanos portugueses.
a harmonia das nações veio de nantes, onde há muitos anos rené martin inventou este conceito de concentração num reduzido número de dias de um imenso número de concertos dedicados a um tema na música a que para simplicar chamaremos de 'clássica'.
o conceito não faz mais que transportar para este mundo da música o que monterey e woodstock fizeram nos anos 60 e todos nós assistimos pelo menos num fim de semana do nosso verão.
com um bilhete de conjunto, podemos escolher todos ou parte dos concertos e viver uma espécie de imersão musical durante 3 dias.
nos últimos anos a festa da música (nome que adoptou em portugal) tem vindo a aumentar o número de concertos e de visitantes.
desde os 27 000 bilhetes para os 72 concertos dedicados a bach no primeiro ano, até aos 51 000 bilhetes e 115 concertos do ano passado, foi sempre a crescer.
ao contrário dos que, principalmente a norte, agora aplaudem a decisão de 'acabar com os privilégios de lisboa' (mas as gentes do porto e arredores não têm vida própria?... têm sempre que viver a sua vida e gerir o seu pensamento em função dos inimigos do sul?), esta questão coloca-me algumas dúvidas.
a minha questão fundamental é saber se o 'atascanso' musical ao estilo 'bar aberto' em que, aproveitando a oportunidade nos alimentamos para a época.
se nos festivais pop/rock a concentração num fim de semana de vários concertos pode diminuir o custo relativo de cada banda que ouvimos, uma vez que o custo de montagem do palco e de toda a estrutura que envolve o concerto é diluída pelos vários grupos, no caso das 'festas da música' a questão não é relevante, uma vez que as estruturas das salas de concerto estão instaladas, havendo apenas a considerar os custos de divulgação diluidos e as sinergias encontradas pela concentração.
no entanto, e tal como acontece nos festivais pop/rock de verão, a atenção da a cada um dos concertos é drasticamente reduzida, relativizando assim a oportunidade de juntar toda aquela gente num único fim de semana de concertos.
todos nós que já estivemos nesses festivais encontramos intervalos para fazer as mais variadas coisas em alturas que estavam a tocar bandas que, em outras ocasiões estariamos uns tempos na sala á espera do começo do concerto.
na festa da musica o assunto é o mesmo.
a simultaneidade e quantidade de concertos, além de fazer perder muitos por não termos o poder da ubiquidade, faz-nos ouvir muitos deles com a atitude de quem está a ouvir mais um.
se o facto de existirem estas concentrações, em termos de divulgação e de foco de atenção pela comunicação social e consequentemente pelas pessoas é uma vantagem, esta grande farra de música (enquanto fruição da dita) já não me parece tão vantajosa assim.
do meu ponto de vista, em vez de chorarem pelo fim do 'bar livre' anual do ccb, todos deveriam exigir que essa quantidade de concertos fosse diluida no ano, com vantagens para os músicos (que são melhor escutados) e para os ouvintes (que os escutam melhor).
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