Essa tosca estatueta é uma humilde homenagem a duas curandeiras chinesas que protagonizaram, em Novembro de 1911, um escândalo de contornos bizarros que abalou a então jovem república portuguesa.
Ajus e Joé, assim as chamavam os jornais da época, numa grafia aportuguesada dos seus nomes originais, eram naturais de Xangai e apresentavam-se como especialistas em devolver a vista a cegos. Os ceguinhos de Lisboa, mais as suas caixinhas de esmolas, guitarras e acordeões, acorreram aos magotes ao humilde hotel onde as chinesas se hospedaram. Naqueles tempos conturbados, o povo sucumbia facilmente à crendice e floresciam as bruxarias.
Todavia, devido talvez ao seu perfume exótico, as chinesas foram tomadas como caso exemplar pelos republicanos, adeptos ferrenhos do positivismo. Resolveram encher-se de brio racionalista e mandaram prender as duas arautas do obscurantismo numa capital que se queria um paradigma do progresso.
A Polícia, porém, deparou com tal resistência por parte dos ceguinhos - que não hesitavam em quebrar as suas guitarras nas cabeças dos agentes - e da populaça em geral, que se tornou impossível evitar um confronto. Rebentou um motim que degenerou em mortes. Estouraram bombas. As redacções de imprensa foram assaltadas. Não fora a pronta acção da cavalaria e Machado Santos teria sido linchado. O caso acaba por ascender ao Parlamento, por iniciativa do ministro do Interior. A prisão das chinesas é usada como mote em comícios e no ataque a adversários políticos. Ninguém consegue manter a serenidade.
A estatueta do "Pavilhão Chinês" é obra de Zeferino Santos, que acompanhava o pai cego nas consultas às curandeiras. O dono da antiga farmácia resolveu adquiri-la para, por graça, a colocar ao lado do anúncio de um medicamento oftálmico.
Quanto a Ajus e Joé, poucos dias depois da sua prisão foram novamente libertadas. Recusaram a extradição para o seu país natal. Algumas semanas antes, a 26 de Outubro desse ano, Sun Yat-sen proclamara a República da China. Receavam ver-se envolvidas com mais republicanos, ainda que chineses. Deixaram Portugal num navio que iria atravessar o Atlântico e nunca mais ninguém soube delas. Tudo quanto resta é uma foto de Joshua Benoliel no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa e a estatueta do "Pavilhão Chinês".
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Caro Amigo,
ResponderEliminarTenho o gosto em anunciar-lhe a publicação do meu novo romance histórico "As Curandeiras Chinesas. Um motim que abalou a I República",
editado pela prestigada editora Gradiva. Será apresentado no decurso da Feira do Livro do Porto, em Setembro.
A obra reconstuitui ficcionalmente acontecimentos reais e incríveis, no ano I da nóvel República portuguesa.
Um episódio alucinante e irracional, omitido e subestimado pelos nossos manuais e varrido para debaixo do tapete da História nacional.
O que podemos dizer é que as duas chinesas, expulsas do nosso país, em 1911, devem estar a rir-se, algures, quando olham agora os "vistos dourados"
que o governo de 2014 concede, com reverências, aos seus compatriotas orientais! Que saborosa vingança!
A História tem destas crueldades....
Agradeço a eventual referência a esta obra.
Sinopse
Lisboa, Novembro de 1911. Duas chinesas chegam à capital e recuperam a visão dos cegos mais pobres que as consultam. Publicitado o «milagre»,
cresce a histeria colectiva e as autoridades ordenam a expulsão das duas curandeiras. A decisão acende um rastilho de protestos, no Parlamento e nos ministérios,
congregando multidões em inflamados comícios. Há mortos, feridos e detidos nos motins da Baixa lisboeta. Cúmulo das ironias, Machado Santos, o vencedor da Rotunda,
o fundador da República, torna-se de súbito no inimigo público dos que, um ano antes, o haviam levado em ombros... Um romance histórico de grande qualidade literária,
baseado em factos verídicos.
http://www.gradiva.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7761
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=725699
Agradeço a eventual referência a esta obra.
Cordiais cumprimentos,
Joaquim Fernandes, PhD
CTEC Board - Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência
Universidade Fernando Pessoa
Praça 9 de Abril, 349
4249-004 Porto