31 de outubro de 2006

bolinhos e bolinhós

Por esta altura cá em Coimbra, as crianças andam de porta em porta com abóboras recortadas e caixas de cartão com forma de carantonha com velas lá dentro, a cantar os “bolinhos e bolinhós” e não páram de catar até lhes abrirem até lhes abrirem a porta. As cantorias pagam-se em dinheiro ou em rebuçados.

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos enterrados.
À porta da bela cruz, truz, truz…
A senhora está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir à porta
P’ra nos dar um tostãozinho ou um bolinho.

Se as pessoas derem dinheiro, eles cantam:

Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora algum santinho.


Se não derem, cantam:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto.



Foto de: http://preto-nobranco.blogspot.com

A escola primária do Estado Novo

A escola primária tinha mapas que nos ensinavam tudo. Como era o mundo. Como funcionavam as linhas férreas. Como éramos por dentro.
Tinham retratos afixados em tríade alinhados com o crucifixo. Salazar, Carmona, Tomás.Agora todas repousam no pó do sotão ( até os crucifixos).

Pelos sotãos das escolas primárias

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Muito especialmente dedicado ao André, o famoso armário geométrico!
Gosto dos lápis de lousa, das canetilhas..de tudo.

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Receita de Frango à Cuca

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Eu lembro-me de ouvir falar na cerveja Cuca...
O senhor Carlos pode contar a história, se faz favor?

30 de outubro de 2006

Pequenos anúncios

Image Hosted by ImageShack.us Gosto da noção de preços sem competência! Quero uma mala já!
Tanto tipo de calçado: tamancos, chancas e alpergatas. Devia ser significativo o facto de abastecerem os Caminhos de Ferro: tipo durabilidade e resistência do material.

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Acho que a nossa Tuxa que tanto gosta deste animal ia adorar ir a esta loja. A Castelo Branco ela frequenta. Qual seria a Rua da Princeza? Vou tentar ver no roteiro.

Os maravilhosos Armazéns Grandella

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E alguém terá algo a dizer sobre estes armazéns?

Receitas de fígado e causas do mal dormir: receitas caseiras da senhora da agenda

O que eu descobri sobre a senhora dona da agenda que dei à Errezinha:

Era atenta leitora de artigos de saúde, muito concretamente sobre o sono. Devia dormir mal. Comentava o certo e o errado das panaceias enunciadas. E a verde e a vermelho.
Não seria professora? Esta grafia do certo faz-me ter essa ideia. E faz-me pensar que causas ela teria para a insónia: abuso de tóxicos? Hm....Fumaria charros, tomaria Valium, ou o quê?

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Boa leitora era: tinha assinalados alguns livros na lista que a Agenda aconselhava e que não eram de fácil leitura, parecia liberal e talvez de esquerda.

Outra deixa para ter sido professora: emendava os erros da edição...Nesta receita culinária de fígado de carneiro assinala os erros. Mas uma coisa é certa, gostava de iscas:) Escreveu um enfático Bom com maíscula no dia de S. Narciso. Não sei porquê mas gosto deste santo!
Porque sublinha a palavra carneiro, é que eu não sei. Talvez o detective André descubra!

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Bem e é hora do jantar. Outro dia continuo esta busca da misteriosasenhora da Agenda do Lar.

Ich Bin Ein Berliner

Gostei muito de Berlim, mesmo muito, e nem sei bem porquê… Talvez tenha sido por causa da companhia, que foi muito boa. Ou pelo tempo, que esteve excelente para passear. Ou talvez por culpa daquela guia, que soube transmitir a emoção de ser berlinense. Ou, se calhar, gostei mesmo da cidade, das avenidas, das cervejas, dos museus, de tudo um pouco. E, como só em Berlim é que se podem compreender algumas coisas, aqui fica o testemunho… Só para recordar!


Potsdamer Platz, cerca 1930
Potsdamer Platz, cerca 1965

Po


PP: Ainda estou sem net... mas prometo ser mais assíduo!! Não me tires da lista, pleeeease :)))

a fábrica (de licores) âncora (um dia destes falarei da de lacticínios...)

a fábrica âncora foi fundada na década de 40 do século 19 e manteve-se em produção até à década de 80 do século 20.
infelizmente já não existe.

durante os cerca de 140 anos em que existiu, produziu alguns produtos que eram incontestavelmente líderes nas suas categorias. nomeadamente o absinto, cujo rótulo ainda hoje é copiado pela concorrência.

de resto, fabricava o vasto leque das destilarias de licores: ponche, rum, genebra (o gin cá da terra nas célebres garrafas de louça que eram recicladas em botijas de água quente), licor de pêssego, triplice (triple sec), curaçao de hollanda, anis, licor de ouro (eau-de-vie de dantzig). etc.


tal como a sua congênere "ideal" ou a homónima âncora de lacticínios, de vila praia de ãncora, também não resistiu as novas regras da distribuição iniciadas nos anos 80.

aqui vão alguns dos seus rótulos..
de que seguramente ainda muitos se lembram


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29 de outubro de 2006

O verso e o reverso

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Encontra-se este cartãozinho com a foto da Garbo num livro.
O reverso é surpreendente.

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Bem, lá vamos comprar fazendas ao " Espelho da Moda" no Porto.

Para a Maria sobrinha de Coimbra

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De Coimbra e do Hotel Avenida, postal da Tia Arminda para a minha avó Amélia.

Gosto particularmente dos beijos aos catraios. E da descrição: fomos à Quinta das Lágrimas, Quinta Das Canas, etc. O carimbo implacável corta o texto.
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Quem ainda manda postais agora?

Greta a divina

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Muito atrasado, mas lá vai.
Se eu fizesse um filme, ressuscitava esta senhora e o Truffaut para uma nova versão da Ninotchka.
No papel do Count Leon d'Algout ficava o Jeremy Irons.

E está adjudicado.

O trem

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Se eu vivesse em 1910, tinha que apanhar o trem para ir ao trabalho. As regras eram muito elaboradas. Para depois se concluir que podiam ser subvertidas em dias de maior afluxo de passageiros.


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28 de outubro de 2006

O cuco e a poupa

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de pão a casa, conforme prometera. Mas o cuco, de má fé, assim que o carro lá chegou,ficou com carro, bois e tudo, dizendo, que a sua mulher tudo ganhara, porque durante a noite trabalhou para o mocho.

o mocho, como bom rendeiro que era, não se conformou e mandou obrigar o cuco pelos bois e carro; foram para o tribunal e o juiz lavrou a seguinte sentença: que o cuco andasse a publicar, por esse mundo todo, que era ingrato e sem vergonha; que o mocho fosse de terra em terra à procura de bois, gritando:"bois, bois"; e que a poupa ficasse toda a vida a recomendar às outras mulheres que poupassem o que tinham, para não se verem obrigadas a pedir esmolas.


Mais uma história infantil, aprovada pelo Ministério da Economia...

27 de outubro de 2006

um grande disco de mulheres, que é bem mais importante que um disco de grandes mulheres

este é um grande disco

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junta aqui as excepcionais 'cramol'; a emblemática (para quem já andou nestas andanças da recolhas musicais) catarina chitas, de penha garcia; um grupo de vinhó (guarda); as 'flores do alentejo', da cuba; a maria e a isabel da igreja, de malhadas (miranda do douro) e umas faixas de fado vadio directamente da 'tasca do careca' para compor o ramalhete.

com uma qualidade de gravação bem acima da média para a música tradicional (claramente algumas gravações foram feitas em condições de estúdio por um conjunto de técnicos belgas - o disco não tem edição portuguesa), este é um grande disco de mulheres, com algumas canções absolutamente deslumbrantes (a cançao de embalar da madeira na voz da graça serra das cramol é um eargasm...
mas as pérolas são imensas, principalmente por 'culpa' das cramol).

hoje estou por aqui, amanhã não sabemos

a propósito dos grandes portugueses e da elegibilidade deles


esta questão dos grandes portugueses tem a particularidade de me irritar um bocado.

por um lado, irrita-me este cadinho onde pretendem colocar todos e mais alguma coisa na esperança que saia uma liga nobre da fundição.
por outro, irrita-me esta ideia da competição em que por um lado a extrema direita se mobilizou em força através de sms para votarem no salazar e por outro lado a esquerda dá indicações de voto mais de acordo com os seus ideais.

se não me espanta o esforço titãnico da direita saudosista para conseguir que o salazar tenha votos que permitam recuperar a sua imagem, já me causa alguma perplexidade que aqueles que, do ponto de vista teórico, sempre defenderam que os grandes heróis foram o povo, agora pretendam personalizar a coisa.

quem faz os heróis são as circunstâncias.
e muitas vezes os mitos

o martim moniz nunca se atravessou na porta do castelo de são jorge.
o viriato viveu na estremadura espanhola

mas, mesmo querendo personalizar a coisa em gente que realmente tenha feito a dita coisa porque são famosos, não é possivel comparar coisas simbólicas como o primeiro 'rei' (que foi mais o conde d. henrique que o seu filho afonso...) com o pedro nunes, por exemplo, ou o d.joão II com o eça de queirós ou o padre antónio vieira, ou os operários da marinha grande
há coisas que não são comparáveis
e depois depende do que achamos importante para a nacionalidade e para a nossa identificação como povo.

se como dizia o outro poeta para o qual eu não tenho nenhuma pachora 'a minha pátria é a lingua portuguesa', o maior português é o gil vicente.
a ele se deve o estabelecimento do português enquanto lingua separada do galaico.duriense.

mas isto são miudezas, como diria o outro.
eu quero lá saber quem foi o maior ou melhor português

eu quero é saber quão grandes (ou pequenos) somos enquanto povo.

o resto é perfumaria...

Memória Completa

O comentário da T ao post abaixo merece um espaço mais arejado:

A oposição ao regime salazarista não foi exclusivo de um só partido.
Houve comunistas entre muitos outros democratas com outras convicções políticas.
Episódio mais negro ainda e de piores dimensões que o Tarrafal, na minha perspectiva, foi a guerra colonial. Dessa não está feita a história ainda.
Não convém e ainda incomoda muita gente.
Acho caricato que chamem mártires ou heróis a pessoas que lutaram exactamente contra esse tipo de nomenclatura. Faz-me lembrar a Igreja Católica e os Livros da Escola Primária de há muitos anos.


T in "comentário a "eu tenho é uma grande memória""

esconjuro para os dias que correm....

ao nosso abs que muitas vezes cantou isto... para que afaste os maus espíritos.
a todos nós que já não há pachorra para tanto trovejar molhado...


santa bárbara se alevantou,
se vestiu e se calçou,
suas santas mãos lavou,
e o caminho do céu andou.

lá no meio do caminho
a jesus cristo encontrou:
— para onde vais, bárbara?
— eu não vou nem quero ir,
mas ao céu quero subir.
vou arramar aquela trovoada
que lá anda
lá anda armada.

arrama-a bem arramada
lá pra serra do marão,
no alto serro maninho,
onde não há vinho nem pão,
nem bafo de menino,
nem berrar de cordeirinho:
só há uma serpente
com vinte e cinco filhas,
que lhes dá água de trovão
e leite de maldição.

amém!

26 de outubro de 2006

tiziana ghiglioni canta luigi tenco

luigi tenco foi um daqueles cometas que passou pela música italiana e nela deixou uma marca para sempre.

nasceu em 38 e morreu em 67. viveu pouco tempo, mas viveu muito e produziu imenso.

horas depois da canção ciao amore, ciao, que cantava em duo com dalida ter sido eliminada pelo juri do festival de sanremo, foi encontrado sem vida no seu quarto do hotel savoy pela sua companheira de canto.
os dias que se seguiram e o funeral em cassine foram de uma imensa manifestação de pesar pela perda nacional.

em 1993, tiziana ghiglioni produziu este lindíssimo disco

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em que se prova a riqueza da produção de luigi tenco, aqui revisitado por uma excelente cantora que se move na área do jazz.
as melodias estão lá.
e soam-nos a standards do jazz.
são clássicos.

O filme

Que tipo de filme seria?
Seria um filme simples que falasse de pessoas e da relação entre elas, da loucura... Nada de megas produções.

Qual o elenco, banda sonora, onde seriam efectuadas as filmagens?
Os actores principais seriam o Gael Garcia Bernal e o Dustin Hoffman. o filme passar-se-ia em Lisboa e na banda sonora entravam fados do Alfredo Marceneiro, músicas dos Ena Pá 2000, do Sérgio Godinho, do José Cid, tudo numa grande misturada.

Dirigiam-no vocês ou contratavam o realizador? Se sim, quem?
O meu realizador seria o Pedro Almodovar e podia fazer o que ele quisesse.
Luzes, Câmara, Acção

que tipo de filme? um filme baseado no conto A Little Cloud (incluído no livro de contos Dubliners) de James Joyce.

que actores? talvez o Johnny Depp & o Philip Seymour Hoffman.

que banda sonora? tinha de ser do Tom Waits!!!!!

localização das filmagens? obviamente, Dublin!

realizador? David Lynch, e com liberdade para alterar o guião...

25 de outubro de 2006

A crise

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Como uma boa sátira política nunca perde actualidade.Crise, uma palavra portuguesa.

R. Bordallo Pinheiro

Le Città Visibili - Lutécia

La Seine, jaunâtre, touchait presque au tablier des ponts. Une fraîcheur s'en exhalait. Frédéric l'aspira de toutes ses forces, savourant ce bon air de Paris qui semble contenir des effluves amoureuses et des émanations intellectuelles...

Gustaves Flaubert & Courbet in L'Education Sentimentale et L'Origine du Monde (respectivamente)

Amor-te

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Michael Foge. 8 de Janeiro de 2003.

No Museu da Água, a mais extraordinária das exposições. Um conjunto de rostos de pessoas que vão morrer e que, na sua maioria, sabem que vão morrer. Fotografadas em vida e, depois, na morte. Ao lado de cada par de fotografias uma pequena nota identifica a pessoa e descreve pensamentos, histórias, sentires. As notas são o que de mais violento traz esta exposição: as fotografias deixam de ser apenas imagens e passam a ser pessoas que nos tocam fundo. E a luz. A luz.

Não sei como sai cada um desta exposição. Sei que não se sai o mesmo. A cada um fica o dever, ou não, de visitar este percurso irrepetível.

Até 28 de Outubro, no Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras.
Com o apoio, e apoiando, a AMARA.

24 de outubro de 2006

Por Lisboa fora.

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Decifrar todas as referências dum roteiro de Lisboa em 1910, ainda era mais complicado do que nos dias de hoje.

Deixo a cifra, um exemplo e um bocadinho da planta, que tinha a coroa em cima da caravela e corvos (não coube no scanner, azar dela). A rainha Dona Amélia é a Almirante Reis pois claro, a Ressano Garcia mudou-se para República e muitas mais mudaram de nome.As avenidas novas foram rebaptizadas... Novos ventos sopravam, estava a chegar a República.

Almanaque Palhares 1910

um dia serão santos, hoje ainda são pessoas

provavelmente assim foi toda a vida.
as caras dos santos que conhecemos são de alguém que alguém realmente conheceu.
alguém próximo de quem as pintou

ou até, alguém próximo de nós.


estas caras ainda são de gente

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o cortês, o maico, o neves, o antónio ramos…

lembro-me das vozes.
ou ainda os vejo por lá de quando em vez.
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por terem sido amigos ou conhecidos de quem os pintou, um dia subirão a santos da capela da senhora da guia em fajão.


Pinturas de Guilherme Filipe

A casa chinesa

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Almanaque Palhares, 1910

Vamos ao animatógrafo?

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Enquanto escolhemos o animatógrafo, sempre se pode reflectir sobre a praga de insectos e dar cabo dela...(pobre carochinha)
Almanaque Palhares, 1910

23 de outubro de 2006

O rabo do gato

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adiante voltou atràs e disse à peixeira:- "Dá cá a navalha, senão furto-te uma sardinha". Como a peixeira não lhe desse a navalha, furtou-lhe uma sardinha.
Depois viu um moleiro a comer pão seco e disse-lhe"Toma lá esta sardinha". Mais tarde voltou atrás e disse ao moleiro" Dá cá a minha sardinha, senão furto-te uma taleiga de farinha". Como o moleiro já tivesse comido a sardinha, furtou-lhe a taleiga de farinha.
Foi o gato ter a um colégio de meninas cuja mestra aflita não sabia o que lhes havia de dar à merenda e disse-lhe" Toma lá esta taleiga de farinha; fazes papas". Mas depois arrependeu-se , voltou atrás e disse à mestra:" Dá cá a minha taleiga de farinha, senão furto-te uma menina".
Saíu com a menina e, procurando uma lavadeira, disse-lhe: " Tu estás a lavar a roupa sozinha!toma lá esta menina para te ajudar". Deixou ficar a menina, mas depois voltou atrás a pedi-la à lavadeira, e, como esta lha não quisesse dar, furtou-lhe uma camisa.
Foi indo, indo, até que lá mais adiante viu um vileiro sem camisa e disse-lhe: " Coitado! estás sem camisa; toma lá, vai-te vestir". Enquanto ele foi vestir a camisa o gato furtou-lhe uma viola; depois subiu para cima duma árvore e começou a tocar viola e a cantar:
"Do meu rabo fiz navalha;
Da navalha fiz sardinha;
Da farinha fiz menina;
Da menina fiz camisa;
Da camisa fiz viola;
Frum, fum, fum, ...ai!
Vou deportado para Angola"

Gosto tanto destes contos infantis. Quase sinto uma voz a contá-las. Porque estas são histórias para serem contadas com tudo a que temos direito.
E estas melopeias que nos ficam, o reconhecer das métricas e sons...

António Maria

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Ontem lembrei-me do Rafael Bordalo Pinheiro, porque a Mariazinha olhava com atenção para uma gravura que tenho dele ( olhar de criança é selectivo) .
Vim assim remexer numa capa de cartão onde guardo restos de "António Maria"e "Besouro", aqueles que não foram encadernados e têm anotações a lápis de várias gerações de crianças e adultos. Contam-me duas histórias: a que o traço genial do Bordalo me faz descobrir e a da minha família.
Muito dava eu para ter visto actuar os irmãos Cassnell, os virtuosos do guiso..

22 de outubro de 2006

Aqui há gato!

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Como é difícil conseguir postar
Com o rabo do gato sempre a abanar!

Gripe, Benoliel e outros acontecimentos

Estou em dia de Ilustração Portugueza. Acordada que fui pelos estagiários de sineiros da Igreja de Arroios, ainda estou ensonada. Mas não tanto assim, que não resista a ir aos assuntos do dia em 1918 : festejava-se o fim da guerra sim, mas também o debelar da epidemia de gripe.
Ao mesmo tempo Portugal despedia-se de Joshua Benoliel, que ia para o estrangeiro trabalhar.



Recortei digitalmente este pedaço de prosa de Acácio de Paiva, agora só recordado como nome de rua, evocando o trabalho dos escoteiros em relação à Gripe Pneumónica.

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Ilustração Portuguesa, nº 668
Lisboa, 9 de Dezembro de 1918

21 de outubro de 2006

Madame Tula versus Madame Silva: sonâmbula ou espartilho.

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Gosto destes dois anúncios lado a lado. Dentro da revista só se fala da 1ª Guerra Mundial. E da inauguração de mais Sopa dos Pobres pelo Dr Sidónio Pais. Engraçado, pensei que só tinha existido aquela dos Anjos. Afinal funcionaram em Sacavém, Pedrouços, nas Escolas Gerais, (viste Morgaine?) e em muitas mais freguesias e lugares.
Mas voltando aos anúncios: ou a Madame Tula nos resolve os problemas ou um bom espartilho e cinta compõem muito a situação. Nada como o realmente, como dizia a minha querida Leopoldina.
Lisboa, 8 de Julho de 1918
Ilustração Portugueza nº 646

Cartilha da Terra Portuguesa: ou as cidades e a província

Eu não resisto a livros abandonados, cheios de pó, a um canto...tenho que rapidamente ir mexer-lhes e fazer-lhes sentir o meu afecto. Entretanto limpo o pó e como tendo a esfregar o nariz, fico mascarrada que nem um limpa chaminés. Não faz mal.
Este roteiro foi recolhido num alfarrabista qualquer. Na altura foi caro, duzentos e cinquenta escudos. (Sim sou uma colectora, eu sei, cada qual com os seus vícios).
É uma edição do SNI de 1950 , com um prefácio do António Ferro e desenhos de Manuela (só assim, muito singela). Não resisto à prosa do A:F :

Consulte-se , portanto, a "Cartilha da Terra Portuguesa" como se consulta um ficheiro que nos indica modestamente os dados essenciais do problema que desejamos tratar ou até as próprias fontes onde devemos ir beber.
Seja como for, esta edição singela do Secretariado será doravante, uma obra indispensável de iniciação, para todos os devotos da nossa Pátria, o catecismo da sua beleza...

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Este adjectivo singelo foi banido do nosso vocabulário, de tanto uso que lhe deram no tempo da outra senhora. Mas é inegável que o António Ferro tinha qualidade no que fazia, como diz a Vespeirinha e tem razão.
Outro dia, numa tal de desastrosa parada comemorativa que fez a SIC, lembrei-me do Estado Novo e do SNI , como sempre me lembro quando vejo grandes ajuntamentos de pessoas e camionetes e profusão de variedades para todos os gostos. Mas eu gostaria de ter visto a Exposição do Mundo Português e conhecer melhor esse evento dos anos 40.

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Voltando ao livro: começa com as cidades de Lisboa e do Porto e depois a província.
Estas cartografias lembram-me a infância.E o desenrolar dos caminhos de ferro e das cidades capitais de distrito também.
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Beija mão e eclipses

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Em 1853 estas eram as grandes efemérides, segundo o Almaque Castilho.
O que seria ter que ir beijar a mão ao Presidente Cavaco e à presidenta Maria?
Vive la republique!

Quem quer casar com a carochinha?

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Gosto bastante destes desenhos. Não são animais humanizados e aparecem tal qual como são: Uma carocha( bonito nome para uma barata) e um rato...
Dois dos animais domésticos de que menos apreciamos a companhia..

Não sei quem foi o desenhador, o livro não tem qualquer indicação.
Talvez alguém descubra.

O coelhinho branco



Quando o coelhinho branco voltou para casa, depois de vir da horta, chegou à porta e achou-a fechada; bateu e perguntaram-lhe de dentro:
- "Quem é?"
O coelhinho respondeu:
"Sou eu o coelhinho
Que venho da horta
e vou fazer um caldinho"

Responderam-lhe de dentro

" E eu sou a cabra cabrês
Que te salto em cima
E te faço em três"

Foi-se o coelhinho , por ali muito triste, encontrou um boi e disse-lhe:

"Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer um caldinho;
Mas, quando lá cheguei,
Encontrei a cabra cabrês,
Que me salta em cima
e me faz em três"

Responde o boi:
" Eu não vou lá, que tenho medo".
Foi o coelhinho andando e encontrou um cãe e disse-lhe:
"Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer um caldinho;
Mas, quando lá cheguei,
Encontrei a cabra cabrês,
Que me salta em cima
e me faz em três"
Responde o cão:
" Eu não vou lá, que tenho medo".
Foi mais adiante o coelhinho e encontrou um galo, a quem disse também:
"Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer um caldinho;
Mas, quando lá cheguei,
Encontrei a cabra cabrês,
Que me salta em cima
e me faz em três"
Responde o galo: " Eu não vou lá, que tenho medo". Foi-se o coelhinho, muito mais que triste, já sem esperanças de poder voltar para casa, quando encontrou uma formiga que lhe perguntou:
"Que tens tu coelhinho?"
"Eu vinha da horta
E ia para casa
Fazer um caldinho;
Mas, quando lá cheguei,
Encontrei a cabra cabrês,
Que me salta em cima
e me faz em três"
Responde a formiga
" Eu vou lá e veremos como isso há-de ser"
Foram ambos e bateram à porta. A cabra cabrês diz-lhes, lá de dentro:
"Aqui ninguém entra;
Está cá a cabra cabrês
Que lhes salta em cima
E os faz em três"
Responde a formiga:
" E eu sou a formiga
Que te furo a cabeça
E me chamo rabiga"
Palavras não eram ditas, a formiga entra pelo buraco da fechadura, mata a cabra cabrês e abre a porta ao coelhinho. Depois foram fazer o caldinho e ficaram vivendo juntos - o coelhinho branco e a formiga rabiga.

Nota:Sem comentários...Ainda me lembrava desta história da minha infância. Não sabia era da parte da promiscuidade entre coelho e formiga rabiga:)
"Contos da Carochinha", Livraria Clássica Editora, 1927

Ah..e dedicada à Lulu Coelhinha, pois claro:)

18 de outubro de 2006

Homens e Mulheres dos anos 70

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E era assim que as mulheres dos anos setenta deviam ser: penteadas, bem calçadas e sorridentes em frente a uma tricotadeira, a nova Busch da distribuidora Sida Sueca.
Estranhas siglas. E tinha 420 agulhas. Faria a alegria de qualquer faquir.


Os homens, coitados deles, estavam guardados para as desgraças: reumatismo ou problemas de rins. Antes eles que nós. A Urocrasina é especialmente dedicada ao Gasel Manuel.
Este era o Portugal da Agenda do Lar de 71.


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Alfarrabista

E agora já temos a Loja Nunes nos links, com muitos livros para explorar.
É bom ter um alfarrabista online:)

17 de outubro de 2006

A importância do nó da gravata


Hoje li no Le Monde, que há um número crescente de homens jovens que não sabem engravatar-se como deve ser...Ou seja, os pais e familiares, nunca lhes ensinaram a dar o nó da gravata .
E como fazem eles quando precisam usar a dita cuja, em qualquer evento social mais exigente?
Vão à Internet meus senhores...Há sites imensos cheios de pdfs de diversos nós de gravatas...parece o tricot fácil, movimento a movimento.
Decididamente as novas tecnologias estão a suplantar não só a memória, mas a transmissão de rituais.
E como se diz gravata de vinte maneiras diferentes? ?

Français- Cravate
Allemand- Krawatte
Anglais- Tie et Necktie
Basque -Gorbata
Croate -Kravata
Danois -Slips
Espagnol- Corbata
Esperanto -Kravat
Finnois -Kravatti
Hongrois -Kravat
Italien- Cravatta
Letton Kaklasaite
Néerlandais- Stropdas / Das
Polonais- Krawat
Portugais- Gravata
Roumain-Cravatã
Russe- Galstuk
Suedois- Kravatt
Tchèque- Kravata, Vàzanka
Turc- Kravat, Boyunbagi


Felizmente que não nasci homem:)