19 de junho de 2006

TPC: Feiras? Só se tiver de ser...

Não gosto especialmente de feiras, a não ser como janela sobre a espécie humana num cenário mais próximo de eras medievais.

As feiras apresentam artigos habitualmente de qualidade irregular ou, por definição, inferior ao das lojas convencionais. Situam-se em locais sujos, confusos, poeirentos, abagunçados. As cassetes piratas são mais baratas mas, até demonstração em contrário, são uma vigarice. A roupa dá para disfarçar enquanto não vai à máquina. Estacionar o carro é mentira - ou é a quilómetros ou num descampado, poeirento ou lamacento consoante os caprichos do clima. Os transportes públicos, proverbialmente, são ainda piores, atirando-nos em espírito para Calcutá em dia de celebração religiosa. A concentração de gente tirada de um filme realista tipo Feios, porcos e maus é altíssima, excepção feita a Carcavelos, em que a taxa de tias de verniz recente permite hilariantes e esclarecedores espectáculos de uma pseudo-luta de classes, uma espécie de wrestling feminino à portuguesa.

Chega-se a casa carregado com cinquenta quilos de batatas e três réstias de cebolas que, depois, se têm de comer antes que apodreçam, dando indigestão à família toda; os brinquedos / jogos dos miúdos são descartáveis, isto é, desfazem-se ou deixam definitivamente de funcionar após os primeiros dez minutos de uso. Os enchidos "da terra", os queijos "directamente do produtor", os vinho "da lavoura" são sempre ou mais caros, ou piores, ou com sorte iguaizinhos aos da mercearia / supermercado da esquina onde teríamos ido a pé.

Creio que perpassa sobre as feiras a idealização nostálgica de um antigamente é que era bom! mas que, se tivermos memória, era um perfeito nojo e incomparavelmente pior sob todos os aspectos que o comércio contemporâneo. Só lá vão os tais saudosistas e as classes sociais dos fundos, que não têm outro remédio para sobreviver. Como dizia alguém sábio no Brasil: Pobre gosta mesmo é de luxo; quem gosta de pobreza é intelectual.

A mesma apreciação faço dos mercados ditos exóticos - souks e afins - cuja finalidade única é limpar os bolsos aos turistas incautos pela venda de pechisbeque e alimentar as populações subdesenvolvidas dos respectivos países. Sim, também já lá comprei coisas. Regateei tapetes no Turquemenistão, tendo-os comprado por dez vezes menos o preço inicial proposto, e mesmo assim tendo pago umas vinte vezes o seu valor real. E não vos conto o que foi tirá-los do país. E em Marrocos. E... não importa, porque o cenário é universal. Que vamos, sim, mas que saibamos ao que vamos. E não nos queixemos depois...

Não confundir com os nossos mercados urbanos que, por si mesmos, mereceriam um tpc próprio, nem com feiras de antiguidades, livros em segunda mão, velharias e afins. Aí a guerra é outra.

E repararão que as designações hipermercado e centro comercial não foram referidas.

PS pós-post: Um dia destes faço um post sobre o mais espectacular mercado que conheço - o Camden Market. The real thing.

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