josé luis pinto de sá (gosto destes autores com nomes compridos) escreveu um livro, editado esta semana, sobre os seus tempo de militância numa das chamadas organizações 'marxistas-leninistas' (m-l).
de acordo com o excerto da sua entrevista à televisão, o principal objectivo da pide era transformar os presos em informadores, ou dito de outra forma, os resistententes em traidores.
de acordo com a sua tese, mesmo que já soubessem tudo sobre determinada organização, a pide continuava a tentar a confissão dos presos para que estes fossem expulsos das organizações onde militavam e assim diminuir o seu número de militantes, já que os extremistas não voltavam a aceitar no seu seio aqueles que colaboravam com a pide.
em extremo, a pide estava mais preocupada em criar traidores e pessoas humanamente degradadas do que em defender a ditadura e combater a oposição (fosse a dos republicanos, fosse a dos maoistas)
ressalvo aqui que nunca estive (felizmente) presente em nenhum interrogatório 'à séria'. a única vez que fui interrogado foi em minha casa, durante um mandato de busca e apreensão, e mesmo sendo eles muitos, acredito que comparado com os interrogatórios na pide, aquilo foi uma coisa de meninos de coro... por isso a minha questão aqui é mais teórica que prática.
espanta-me que uma boa parte das pessoas que passaram pelas organizações m-l sinta frequentemente a necessidade de mostrar o seu arrependimento público pelos anos de ilusão em que, quais jovens impolutos e inocentes eram vítimas das tenebrosas engrenagens daquelas obscuras organizações e respectivos membros.
a classe política dirigente, bem como a da informação, em portugal está cheia de gente dessa.
todos (ou quase) entraram (dizem) para a resistência à ditadura porque queriam ter amigos e fazer parte do grupo (convenhamos que não abona muita em seu favor estas confissões públicas). uma espécie de street gangs da época da ditadura.
achar que durante o fascismo os membros das organizações eram sujeitos a 'uma repelente ditadura clandestina' como afirma o senhor rui ramos no público de hoje, é perceber tanto da resistência às ditaduras como de lagares de azeite.
por muito que custe a essa gente, a segurança era (tinha que ser) a regra chave.
por muito que custe a esta gente, não era possível a nenhuma organização manter no seu seio aqueles que tinha denunciado colegas.
a clandestinidade não era uma brincadera de meninos (ou de almas conquistadas): era tão importante como a firmeza perante a pide.
por muito que custe a esta gente, falar hoje de resistência ao fascismo não é exactamente a mesma coisa que tê-la vivido e mais que isso, ter-lhe sobrevivido.
se todos tivessem sido como o senhor pinto de sá quem teria sobrevivido, e bem, tinha sido a ditadura.
não li o livro (nem o tenciono fazer). falo apenas da entrevista ao seu autor e do que ela representa.
a auto-redenção das almas conquistadas
Caro Carlos,
ResponderEliminarVerifico que apagou os comentários que aqui trocámos.
Não me diga que é essa a sua concepção de democracia... :-)
Mas já agora, dado que não pretende ler o livro, tomo a lierdade de lhe sugerir um "cheirinho" apenas, aqui:
http://conquistadoresdealmas.blogspot.com/
meu caro pinto de sá,
ResponderEliminarlamento só agora ver o teu comentário, mas nunca mais tinha voltado a este texto.
se bem te lembras, eu não não apaguei alguns dos teus comentários, como os coloquei em post para que não se perdessem.
o que aconteceu, infelizmente, com alguns dos comentários aqui trocados, foi que por este blod ter mudado o servidor onde os ditos comentários estavam alojados, os mesmos se perderam.
temos, de facto concepções diferentes de democracia, como sempre tivemos. mas a minha concepção jamais me levaria a cortar a palavra a quem quer que seja.
já dos actos de outros não posso dizer o mesmo.
já agora, e para que não fiquem dúvidas, o teu comentários uns dias depois passado a post, já com a certeza de que um dia os comentários poderiam desaparecer:
ResponderEliminarhttp://diasquevoam.blogspot.com/2006/06/o-direito-opinio-resposta-e-ao.html
como vês, não te calo nem te apago