27 de junho de 2006

A estranha vida sexual dos livros

Eu acho que os meus livros têm vida sexual intensa e produtiva porque cada vez mais ocupam a casa toda.
Não sei o que acontece à noite. Penso que o Miller anda em frenética actividade. Encontrei a fotobiografia da Natália Correia caída no chão e parece que sopra sempre uma tremenda ventania nas estantes. Acho suspeito estarem sempre desalinhados. Às vezes noto-os corados. Ofegantes. Refastelados. Esvaziam-me as garrafas.( The piano has been drinking, not me, not me, not me, not me, not me) Outro dia estava escrito na casa de banho " Exigimos uma maternidade para a Rua José Falcão!". Eu repliquei, como entidade patronal: " têm a Alfredo da Costa que é perto!". Malcriados.
Resultado, procriam em casa os impertinentes. Há também um lar de Terceira Idade julgo eu. E uma secção de pedaços de livros estropiados que tenho para colar. Estão sempre a reclamar aliás.
Quando trago livros novos para casa, passam por uma quarentena e ficam aparte enquanto os não leio. Depois tento integrá-los. Nunca é muito fácil. Os que já têm lugar cativo, recusam-se a desviar um pouco para os novos caberem. Tenho que forçar. Depois ameaçam com o Apoio à Vítima. Delatores.
Arrumá-los? Eu bem tento. Autores estrangeiros para um lado, Poesia para outro, Portugueses para lá, ficção científica para cá, policiais para outro, história, cinema, sei lá eu que mais. Mas eles convivem E são pouco ortodoxos e criteriosos nas escolhas de companhia. E depois às vezes escondem-se: dá-lhes gozo ver-me de rabo para o ar ou empoleirada numa cadeira à procura dum deles. Às vezes ouço uns risinhos de gozo. "a gaja tá pitosga como o caraças".
Ontem à noite, antes de adormecer, ouvi de novo as vozes: "a gaja anda a fotografar-nos muito. E há aqui menores. Bora chamar o Diap?""Bora!!"....grrrrrrrrrrrrr!
A empregada disse-me : não consigo limpar o pó a todos. Mal ela sabe como eles são...

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