21 de junho de 2006

Cega-rega: Era e não era andava lavrando

Esta cega-rega tem várias versões. Esta vai corrigida de acordo com a que o meu pai recitava, que era mais sintética e ritmada, mas que infelizmente não decorei por inteiro.

Era e não era
Andava lavrando,
Chegou uma notícia
Que seu pai era D. Fernando.

Sentado de pé,
num banco de pau,
feito de pedra
Um jovem ancião
Bondoso e mau

A ler um jornal sem letras,
À luz de uma vela apagada,
Calado apregoava:
"A terra é uma bola quadrada"

E o pobre do Fernando,
lesto como o caracol,
sobe parede abaixo,
no seu jeito mole.

Bateu-lhe desafortunada a fortuna
e bem-afortunado o azar,
Antes do nascimento,
Sempre depois e nunca mais

Tinha o pai pra nascer
E a mãe pra morrer.
Que havia o moço de fazer?
Deitou os bois ás costas,
Pôs o arado a correr.

Quis saltar o valado,
Saltou um arado.
Se não era cão
Mordia-lhe um cajado.

Entrou numa horta,
Viu um pessegueiro
Carregado de maçãs,
Avelãs e fruta madura.

Veio de lá o dono dos pepinos:
- Ó ladrão dos meus marmelos!
Quem te mandou a tii andar a roubar as cerejas
Que tinha guardado
Prós meus meninos?

Agarrou num melão,
Atirou-lhe com um pepino

Acertou-lhe num artelho,
Fez-lhe sangue num joelho.

3 comentários:

  1. era não era andava lavrando, pensando no pai que era morto e na mãe por nascer o que havia o pobre homem de fazer.
    subiu por um valado abaixo, desceu por outro acima, foi ao pomar das maçãs roubar avelãs.
    veio de lá o dono dos marmelos e disse: ó seu mariola, anda a roubar batatas no meu ervilhal alheio.
    da minha tia Maria

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  2. Se eu me lembrasse da versão toda que o meu pai conta... É algo deste género:
    Era, nâ era, andava lavrando, c'um boi cartaxo y outro calhandro. Súbi q'o mê pai tinha nascido antes da menhâ mãe morrêre. Pus o boi às costas y o arado a quemêre. (acho que é algo por aí)
    Depois à qualquer coisa acerca de um ninho de cegonhas, cujos ovos os põe a gata, chocou-os a pata e saíram três galguinhos - é possível que falte informação.
    Mais adiante há a coisa de entrar numa propriedade, andar a roubar frutas em árvores que não correspondem e uma frase que diz
    ¡ó seu grandessíssimo filho da puta, ¿quem é que o manda andar a colher ervilhas em favais!?
    Tem mais algo ainda depois. Tenho que pedir ao meu pai para me dizer tudo y espero vir aqui postar a cega-rega inteira.

    *Por certo, está escrito em Alentejano - não sei se de Juromenha, se de Elvas.

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  3. Versão que meu avô e bisavô me contavam em Elvas... "... Era ou não era estava lavrando eram novas do Sr. Fernando. O pai tinha morrido, a mãe não tinha nascido, o povo não sabia o que fazer pôs o boi ás costas e o arado a comer. Subiu por uma descida acima e desceu por uma subida abaixo, encontrou uma pereira carregada de maças subiu a ela pra comer as avelãs. Veio de lá o homem dos marmelos e disse "...que está aí a fazer meu patife , meu mariola a comer pepinos num faval alheio?!!" Aturou uma pedra á testa e acertou lhe no joelho...

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