30 de maio de 2006
As velas ardem até ao fim.
Percebo e sinto aquilo que tinha acontecido nesse dia: a minha vida tinha-se partido em dois, como uma paisagem rasgada por um terramoto - de um lado ficou a infância, tu e tudo aquilo que a vida passada significava; do outro lado começa aquele território obscuro e imenso que tenho de percorrer, o tempo que me resta para viver.E as duas partes da minha vida já não se tocam. Que é aconteceu? Não sei responder...
Deram-me no domingo este livro de Sándor Márai. Só o larguei quando cheguei ao fim e mesmo assim tive necessidade de lhe voltar a pegar e reler algumas passagens.
É um livro para ficar na cabeceira.
153 páginas em que se fala de amor, amizade, fidelidade, culpa do sobrevivente, vingança, traição...todas as emoções por aqui passam. Num encontro entre dois amigos que se reencontram, passados 41 anos de ausência. Entre a distância e a consciência do que não pode voltar a ser, as recordações ainda por esclarecer, em que aquilo que se pressente é maturado pelo tempo. Certa fico, que a amizade verdadeira perdura, mesmo depois da traição.
Éramos amigos e não há nada na vida que possa compensar uma amizade. Nem mesmo uma paixão devastadora pode oferecer tanto prazer como uma amizade silenciosa e discreta proporciona àqueles que são tocados pela sua força. Porque se nós não fôssemos amigos, não terias apontado a tua arma contra mim naquela manhã, na floresta, durante a caça.
Este é um livro excepcional. Não é caro nem arrevesado, usa uma linguagem directa e simples. Parece uma fonte cheia de água fresca em dia de canicula. Apetece voltar a beber.
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