27 de abril de 2006

Relações Públicas

Bem sei que tem uma pela bronzeada e hidratada; olhos bonitos; seios admiráveis, duros, juntos, fortes. Ainda assim, considero inaceitável que uma funcionária pública receba um cidadão contribuinte de cigarro na mão, aceso e a fumar.

Também me faz muita confusão ver funcionários públicos a beber álcool ao almoço. Bem sei que de tarde, tal como de manhã, pouco ou nada fazem. De facto, são totalmente inúteis, seriam dispensados por qualquer empresa privada. No entanto, ainda assim, fazem-me confusão. Sobretudo quando são reitores comunistas de universidades públicas.

Numa empresa privada, uma mulher maravilhosamente bela cuja profissão é informar os potenciais clientes, não sabia nem percebia absolutamente nada de técnicas e processos de branqueamento de dentes. Isto numa clínica de branqueamento de dentes. Não faz mal absolutamente nenhum. Há muitas empresas privadas, poderei ir a outra. Além disso, eu não sou coagido pela força do Estado a contribuir para essas empresas. Contribuições à força, só para os salários dos funcionários públicos que bebem álcool à hora de almoço.

Num centro de yôga, uma mulher morena com umas sandálias magníficas, um corpo generoso, sorriso generoso. As pessoas felizes produzem um marketing absorvente e sedutor. As pessoas que não gostam do que fazem deviam demitir-se mesmo que a opção restante fosse a indigência.

Em Portugal há imigrantes que trabalham muitíssimo. A minha co-residente chega a estar treze horas de pé por dia, com quarenta e cinco minutos para almoço. E não bebe álcool ao almoço. Eu cansava-me com três horas seguidas de pé. No limite e muito excepcionalmente, ficava quatro horas e meia de pé, com uma hora e meia de intervalo. Ficava exausto.

O meu desejo de que houvesse uma maioria de mulheres de Lisboa a usar decote impôs-se por telepatia coerciva colectiva. Agora mesmo, uma brasileira baixinha com uns seios redondos grandes muito puxados e empurrados um contra o outro, a levantarem-se do decote côr-de-rosa, a uma pequena distância do meu nariz fino, ligeiramente arrebitado e sem intenção de estar bronzeado. A pele branca já ao de leve tostada, o rabo curvilínio, elegante e bonito, as calças apertadas em redor.

Na noite de 25 de Abril toda a gente à minha volta fumava haxixe. Eu fumei o meu primeiro charuto. Era forte.

Há uma nova sub-tribo de sk8r boys: os meninos atafulhados de roupas de marca em dias de sol de queimar que fazem skate sob a supervisão dos papás e por vontade das mamãs, a quem tratam por você e que os tratam por você. Ficam todos admirados quando alguém anda de tronco nu. Os que ficam admirados e que tratam os papás por você e que se atafulham em roupas de marca em dias de sol quentíssimo: são os novos “meninos da rua”, com os seus skates limpos e a brilhar.

No dia 25 de Abril de 2006 não sei onde estavam os lisboetas portugueses. Os lisboetas não portugueses estavam nos jardins, na natureza.

Há já muito que reparo nisto mas só agora escrevo: os poisos mais bonitos, naturais e agradáveis de Lisboa são onde não há lisboetas portugueses. Os lisboetas portugueses estão sempre nas praias mais próximas, como focas no Antártico, ou nos centros comerciais, fechados, a comprar roupas de marca. Nos sítios mais agradáveis há quase exclusivamente lisboetas não portugueses. É uma comunidade mais ou menos passageira e flutuante de erasmus, imigrantes, visitantes de uma semana ou um mês, amigos que se encontram sempre nos mesmos jardins, cafetarias, miradouros, exposições, festas não publicitadas, bares, teatros e sessões alternativas de cinema e que sorriem secretamente uns para os outros, sem se conhecerem, só porque se encontram casualmente várias vezes nesses mesmos locais bonitos, naturais e inteligentes.

Há um filme aí sobre lisboetas. Ainda não o vi e pouco ou nada o li acerca dele. Como é hábito, já sei o seu conteúdo de uma ponta à outra. É só esperar a oportunidade para o preconceito amadurecer em confirmação. É uma coisa que me dá um certo orgulho, um pouco isolador. Gostaria de colocar algumas perguntas ao realizador. Mas talvez não valesse a pena, já sei mais ou menos as respostas.

Estamos debaixo do Sol de não-retorno.

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