Em Amesterdão conheci um rapaz iraniano que me disse uma coisa que me impressionou, ele disse que tinha o hábito de fumar haxixe, fazia-o com regularidade, a mesma regularidade com que se pratica um desporto com seriedade, e com um prazer maior. Mas quando quebrou o relacionamento com a namorada, deixou o haxixe porque queria sentir a dor, profunda, ampla e dura no seu absoluto de autenticidade, sem qualquer distorção provocada pelos maus químicos.
Querer sentir toda a dor emocional, sem soporíferos nem anestésicos. Não me disse porque queria isto, mas eu sei: para viver a própria vida, para não fugir nem evitar a vida. Vivê-la, senti-la, sujeitar-se a ela na sua brutalidade real. Caso contrário, não se vive. Seria estranho deixar passar a vida, mesmo quando a vida é dor. Recusar a dor quando esta toma a essência da vida seria suicidar-se temporariamente.
A internet anestesia-me. É um mal.
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