1 de fevereiro de 2006

o circo está montado


hoje, duas minhas concidadãs, vão a um conservatória do registo civil de lisboa com a intenção de se casarem.
esta notícia, anunciada com alguns dias de antecedência em muitos meios de comunicação, fará montar o circo mediático na referida conservatória e em todo o lado onde duas pessoas estiverem a falar (ressalvando os que ainda estão nos restos do jogo de sábado e da neve de domingo).

hoje, entre o que li e ouvi (e foi imenso) retive algumas coisas.

um deputado do psd afirmava com ar sapiente e preocupado que o país 'não precisa' desta preocupação nem os seus politicos devem gastar tempo com ela porque existem problemas muito mais graves no país. e adiantou que o povo português tem convivido muito bem com esta situação (a de haver quem se queira casar e não possa) e que temos mais que fazer.
a minha questão para o insígne deputado é simples:
mudar o artigo do código civil que impede (e contraria a constituição) que pessoas do mesmo sexo se casem, demora 5 minutos a mudar.
menos que o tempo que gastou a responder à pergunta.
quanto ao resto, eu sei que o povo português convive bem com pessoas que se querem casar e não podem.
essas pessoas é que são capaz de não conviverem bem com o facto.

uma senhora teté, notável membra da associação mulheres em acção, escreveu um texto com o título 'heterossexualidade e casamento' em que mandou imprimir um conjunto de pérolas ideológicas dignas do cónego melo ( ou do remédios, como preferirem o estilo mais ou menos caceteiro).
depois duma extensa queixa sobre a existência dum lobby gay e da cumplicidade superficial e sentimental dos meios de comunicação, mais a indiscreta (sic !!) operação de marketing da 'love strory entre dois cowboys' e mais a queixa sobre a 'absurda resolução' do parlamento europeu sobre a homofobia, a douta teté passa a explicar a coisa:
1. a heterossexualidade é uma nota essencial do casamento que se funda na conjugabilidade homem-mulher e na fecundidade potencial dessa relação.
2. que a resultante dessa união é a fonte primária do capital social e que é por isso que o estado regula e protege o casamento heterossexual.
que a função do direito é não dar cobertura jurídica todas as relações afectivas (sexuadas ou não)
3. que só a relação homem-mulher está nos alicerces da sociedade. e que a reivindicação 'eu amo quem quiser' deve ser seguida de 'mas o estado não nada a ver com isso'
4. mas afirma a douta senhora teté que qualquer pessoa pode casar, independentemente da sua orientação sexual. que o código civil não proibe o casamento dos homossexuais, proíbe é o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
5. afirma adiante que a humanidade não se divide entre homossexuais e heterossexuais, mas sim entre homens e mulheres, para depois concluir que a homossexualidade é moral psicologicamente destrutiva.
e remata mandando cerrar fileiras contra aqueles que sendo uma minoria poderosa querem impor as suas convicções a toda a sociedade.

do total de tudo o que ouvi, recordo estes dois casos por representarem o conjunto das posições da sociedade política e da sociedade civil que acha que casamentos só como está e quem não está bem mude-se.

sobre o parlamentar já disse resumidamente para que não se perca muito tempo e possa voltar ao árduo trabalho de legislar sobre as nulidades labirinticas que se costumam ocupar.

quanto à senhora teté, com muito que o nome seja estranho, as ideias são muito mais comuns do que parece.

esta questão do casamento homossexual é da 'mesma família' que a da interrupção voluntária da gravidez (por muito que possa parecer que não), que é a família do 'eu não concordo, por isso ninguém pode ter ou fazer porque isso me viola (a mim) os meus princípios (e obviamente me estou a cagar para os dos outros)
estas pérolas sobre a ideia peregrina de que só duas pessoas de sexo diferente possam constituir um casal e que possam construir uma vida em comum, com o mesmo grau de sanidade, liberdade, afectividade, sexualidade e todas as outras coisas acabadas em 'ade' que vos passarem pela cabeça é do mais imbecil que se põe conceber alguém produzir.
achar que os homossexuais são pessoas moral e psicologicamente destruídos (ou mais destrutíveis que os que o não são) é uma alarvidade digna do mais ultramontano dos ultramontanos .
achar que cada um até pode pensar como quiser (que nós somos todos democratas, porque tem que ser), mas que o estado do meu país não pode ter nada a ver com isso é não conseguir ver mais do que a ponta do próprio nariz. e mesmo assim mal

eu não acho que as pessoas precisem de registar civilmente a sua união para serem felizes;
mas acho que todos têm o direito de o fazer se acharem que isso é importante para elas.

o facto de eu ser homem e gostar de mulheres não me pode dar direitos mais alargados do que a um homem que goste de homens, ou a uma mulher que goste de mulheres. esta é a base do meu pensamento na sociedade.
Isto é o que eu acharia que qualquer pessoa com um qi acima de idiota pensaria.
Mas não.
Afinal é possível juntar letras em palavras e estas em frases, e mesmo assim pensar deste modo

e não, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não tem nada a ver com as outras limitações existentes do limite de idade ou do numero do cônjuges simultâneos. esse argumento serve apenas para desviar a atenção da questão principal que é:


todos somos iguais perante a lei

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