25 de fevereiro de 2006

A NORMA

Não me sinto bem neste mundo bem penteado, cínico, plástico, artificial. Porém, se quiser ser honesto, a minha vida está cheia destes elementos. Desde crianças que somos convidados a portar-nos bem. Somos marcados ao longo do tempo com esta espécie de ferro em brasa. Tshhhhh porta-te bem ! Tshhhh não respondas ao sr. professor. Tshhhhh olha que perdes o emprego ! Tshhhh olha que a namorada não gosta que olhes para aquela miúda, fantástica, com umas pernas ... Tshhhh !
Estamos cheios de marcas de repressão. Eu tenho o corpo todo coberto de chagas.
A NORMA ! é uma espécie de lesma, gorda, enorme, de antenas com olhos na ponta e a mexerem-se constantemente, nunca dorme, elimina, come, faz desaparecer, qualquer variedade, qualquer diferença. Comuns ! É comuns que teremos que ser. Levantarmos o braço em uníssono, ou alguém aqui discorda desta ideia ? Hã ? Todos. Agora. Ao mesmo tempo. Juntos. Olhem. Vejam. Admirem. Não tenho razão ?
O que nos vale, meus amigos, é a cabeça. É na cabeça que está a salvação ! É aí que ainda reside (por enquanto) o prazer maquiavélico, a imaginação das cenas mais fantásticas e menos verosímeis das nossas vidas, a humilhação que gostaríamos de infligir ao nosso inimigo. Os nosso medos, as nossas culpas, transformadas em azeite a escaldar sobre os nossos queridos líderes. O mundo pertencerá então a nós, os orgulhosamente diferentes !
Bom fim de semana, aproveitem para sentir a chuva. Desde miúdo que não inclino a cabeça para trás e abro a boca, sentindo os pingos da chuva a baterem-me nos dentes e na língua. Acho que o vou fazer hoje ! Beijos e abraços.

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