17 de novembro de 2005

Homenagem

Venho por este meio prestar a minha homenagem a todas as homenagens que se fazem para homenagear pessoas e instituições dignas de homenagem.
Consiste a minha homenagem em homenagear, homenageando os homenageados, os homenageadores e as homenagens em si.
Em primeiro lugar homenageio os primeiros homenageadores que, suponho eu, terão ficado conhecidos por homenagear alguém que, digno de homenagem, nunca tinha, lamentavelmente, homenageado ninguém. Essa notável iniciativa de iniciar esta homenageável atitude de homenagear, é, do meu ponto de vista, digna de toda a homenagem. Infelizmente, estas assinaláveis figuras dos primeiros homenageadores - amadores pioneiros e carolas - não ficaram com o seu nome devidamente registado na história, tendo eu agora de prestar a minha homenagem ao homenageador desconhecido, figura ímpar da história da homenagem, percursor de toda a trepidante e infatigável actividade homenageante que saudavelmente frutificou, se multiplicou e profissionalizou nos nossos dias.
Homenageio também os primeiros homenageados, que a leviana história igualmente deixou de parte, mas menos injustiçados porque, digamos assim, já tiveram a sua quota-parte de homenagem e que chamarei univocamente homenageado desconhecido.
Homenageio a seguir os homenageadores de segunda ordem que gratuitamente se emocionam com as homenagens que se fazem aos homenageados, ficando sempre com a culpa infame de não terem sido eles os homenageadores de primeira ordem, e se limitam a bater sentidas e dolorosas palmas no fim da festa. Quantas vidas não terão perdido sentido por não poderem fazer a sentida homenagem a que tinham direito, no momento certo, devido a um homenageador mais afoito que se lhes antecipou.
Homenageio ainda aqueles - e aqui ocorre-me uma lágrima - que nunca tiveram a perspicácia e a rapidez suficiente para, pelo menos uma vez, fazerem uma justa homenagem, antecipando-se aos seus pares - nesta competição feroz em que nos movemos - no reconhecimento inequívoco de um homenageável.
Por último, homenageio aqueles que, por razões que a razão não conhecerá, nunca foram homenageados, num nítido desperdício de matéria homenageável que me apraz agora corrigir.
Para terminar, torna-se evidente que esta minha emocionante e emocionada homenagem é digna de uma grande homenagem.

Lino Centelha

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