25 de setembro de 2005

A metafísica da gravata

Amanhã vou à Covilhã e volto no mesmo dia. De carro, o que, não sendo desagradável, se torna uma seca quando há mais que fazer. Resultado de ainda não haver horários de jeito nos comboios. Mas há-de melhorar. Talvez.

Mas o mote do post era outro: a lenta verificação que me vai entrando na cabeça de que aquilo que dizemos deixa maior marca se estivermos de gravata. Juro. Um tipo diz uma coisa em mangas de camisa, ou de polo, ou de t-shirt, e tem menos impacto. Já fiz a experiência. Podemos hipotetizar que quanto mais forte a presença de espírito do interlocutor, menor a probabilidade de o factor gravata ter influência. Mas fica por ser demonstrado, principalmente quando muitos desses indivíduos de personalidade mais forte andam, eles mesmos, com a dita tira de tecido enrodilhada no pescoço.

Na minha área de trabalho acostumamo-nos ao cortejo da humanidade na mó de baixo, quando não na mais completa das degradações, e deixamos, a certa altura, de valorizar determinados símbolos como as roupinhas e trapos. Desde que confortáveis e limpas está tudo bem. Mas não está. O factor gravata acaba por se imiscuir e marcar uma diferença. A certa altura a fracção masculina da humanidade surge monocórdica e monocromática, tipo men in black durante a semana e bermudas, t-shirt e sapatos de vela ao fim de semana para dar um ar descontraidão e práfrentex. A minha paciência diminui a olhos vistos.

Por outro lado o raio da gravata dá peso ao que se diz e faz. Confere uma gravitas que, ainda que o indivíduo não a possua nem mereça, se transmite ao interlocutor.

Um dia ainda alguém, de preferência de outro planeta, há-de estudar isto.

Amanhã vou à Covilhã.

De gravata.

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