31 de agosto de 2005
caso de polícia
Um pouco de cóltura
"Acho muito razoável a crença céltica de que as almas daqueles que perdemos estão cativas em algum ser inferior, num animal, num vegetal, numa coisa inanimada, efectivamente perdidas para nós até ao dia, que para muitos não chega nunca, em que acontece passarmos junto da árvore, ou entrar na posse do objecto que é sua prisão. Então elas estremecem, chamam por nós e, mal as reconhecemos, quebra-se o encanto. Libertadas para nós, venceram a morte e tornam a viver connosco.
O mesmo acontece com o nosso passado. É trabalho baldado procurarmos evocá-lo, todos os esforços da nossa inteligência são inúteis. Ele está escondido, fora do seu domínio e do seu alcance, em algum objecto material (na sensação que esse objecto material nos daria) de que não suspeitamos. Depende do acaso encontrarmos esse objecto antes de morrermos, ou não o encontrarmos.
Havia já muitos anos que, de Combray, não existia para mim tudo o que não fosse o teatro e o drama do meu deitar, quando, num dia de inverno, ao regressar a casa, a minha mãe, vendo-me com frio, me propôs que, contra o meu hábito, tomasse um chá. Comecei por recusar e, não sei porquê, mudei de opinião. Ela mandou buscar um daqueles bolos pequenos e roliços chamados «madalenas», que parecem ter sido moldados na concha estriada de uma vieira. E não tardou que, maquinalmente, abatido pelo dia taciturno e pela perspectiva de um triste dia seguinte, levei à boca uma colher de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas no preciso instante em que o gole com migalhas de bolo misturadas me tocou no céu da boca, estremeci, atento ao que de extraordinário estava a passar-se em mim. Fora invadido por um prazer delicioso, um prazer isolado, sem a noção da sua causa. Tornara-me imediatamente indiferentes as vicissitudes da vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, do mesmo modo que o amor opera, enchendo-me de uma essência preciosa: ou, antes, tal essência não estava em mim, era eu mesmo. Deixara de me sentir medíocre, contingente, mortal. Donde poderia ter vindo aquela poderosa alegria? Sentia-a ligada ao gosto do chá e do bolo, mas ultrapassava-o infinitamente, não devia ser da mesma natureza. Donde vinha? Que significava? Onde agarrá-la? Bebo um segundo gole, no qual nada encontro a mais que no primeiro, e um terceiro que me traz um pouco menos que o segundo. É tempo de parar, a virtude da bebida parece estar a diminuir. É evidente que a verdade que procuro não está nela, mas em mim. Ela despertou-a, mas não a conhece, e não pode mais que repetir indefinidamente, cada vez com menos força, aquele mesmo testemunho que não sei interpretar e que, pelo menos, quero poder tornar a pedir-lhe e reencontrar intacto, à minha disposição, daqui a pouco, para um decisivo esclarecimento. Poiso a xícara e volto-me para o meu espírito. A ele cabe encontrar a verdade. Mas como? Grave incerteza, sempre que o espírito se sente ultrapassado por si mesmo; quando ele, o explorador, é todo ele o país escuro que tem a explorar e onde lhe não servirá de nada toda a sua bagagem. Explorar? Não só: criar. Está diante de algo que não é ainda e que só ele pode tornar real e depois fazer entrar na sua luz.
E recomeço a perguntar a mim mesmo qual poderia ser esse estado desconhecido, que não trazia consigo qualquer prova lógica, mas sim a evidência da sua felicidade, da sua realidade, diante da qual as outras se esfumavam. Pretendo tentar fazê-lo reaparecer. Retrocedo pelo pensamento ao momento em que tomei a primeira colher de chá. Reencontro o mesmo estado, sem uma clareza nova. Peço ao meu espírito mais um esforço, que me traga mais uma vez a sensação que se escapa. E para que nada quebre o impulso com que vai tentar reagarrá-la, afasto todos os obstáculos, todas as ideias alheias, protejo os meus ouvidos e a minha atenção contra os ruídos do quarto contíguo. Mas, sentindo que o meu espírito se fatiga sem o conseguir, forço-o, pelo contrário, a tomar essa distracção que eu lhe recusava, a pensar noutra coisa, a restabelecer-se antes de uma suprema tentativa. Depois, pela segunda vez, faço o vazio à frente dele, torno a pôr diante dele o sabor ainda recente daquele primeiro gole, e sinto estremecer em mim qualquer coisa que se desloca, que queria erguer-se, qualquer coisa que terão desancorado, a uma grande profundidade; não sei que é, mas sobe lentamente; sinto a resistência e oiço o rumor das distâncias atravessadas.
Não há dúvidas de que o que assim palpita no fundo de mim deve ser a imagem, a recordação visual, que, ligada a este sabor, tenta segui-lo até mim. Mas debate-se muito longe, muito confusamente; mal posso discernir o reflexo neutro onde se confunde o inapreensível turbilhão das cores agitadas; mas não posso distinguir a forma, pedir-lhe, como único intérprete possível, que me traduza o testemunho do seu contemporâneo, do seu inseparável companheiro, o sabor, pedir-lhe que me diga de que especial circunstância, de que época do passado se trata.
Será que irá atingir a superfície da minha clara consciência essa recordação, o instante antigo que a atracção de um instante idêntico veio de tão longe solicitar, comover, erguer no mais fundo de mim? Não sei. Agora já não sei nada, parou, talvez tenha descido de novo; quem sabe se alguma vez tornará a subir da sua noite? Dez vezes terei de recomeçar, de me debruçar sobre ele. E de todas as vezes a cobardia que nos afasta de todas as tarefas difíceis, de todas as obras importantes, me aconselhou a pôr aquilo de lado, a beber o meu chá pensando simplesmente nos meus aborrecimentos de hoje, nos meus desejos de amanhã, que se deixam ruminar sem custo.
E de repente a recordação surgiu-me. Aquele gosto era o do pedacinho de madalena que em Combray, ao domingo de manhã (porque nesse dia não saía antes da hora da missa), a minha tia Léonie, quando lhe ia dar os bons-dias ao quarto, me oferecia, depois de o ter ensopado na sua infusão de chá ou de tília. A visão da minúscula madalena nada me fizera lembrar até a ter provado; talvez porque, tendo-as visto muitas vezes depois disso, sem as comer, nas prateleiras das pastelarias, a sua imagem deixara aqueles dias de Combray para se ligar a outras mais recentes; talvez porque dessas recordações abandonadas durante tanto tempo nada sobrevivia fora da memória, tudo se havia desagregado: as formas - também a da conchinha de pastelaria, tão gordurosamente sensual no seu pregueado severo e devoto - tinham sido abolidas, ou, ensonadas, haviam perdido a força de expansão que lhes permitia chegar à consciência. Mas, quando nada subsiste de um passado antigo, após a morte dos seres, após a destruição das coisas, apenas o cheiro e o sabor, mais frágeis mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, permanecem ainda por muito tempo, como almas, a fazer-se lembrados, à espera sobre a ruína de tudo o resto, a carregar sem vacilações sobre a sua gotinha quase impalpável o edifício imenso da memória.
E mal reconheci o gosto do pedaço de madalena ensopado na tília que a minha tia me dava (se bem que então ainda não soubesse e que tivesse que deixar para muito mais tarde a descoberta de porque é que aquela recordação me fazia tão feliz), logo a velha casa cinzenta sobre a rua, onde ficava o seu quarto, veio, como um cenário de teatro, juntar-se ao pequeno pavilhão que dava para o jardim, que havia sido construído para os meus pais nas traseiras (aquela superfície truncada, a única que até então tinha tornado a ver); e com a casa, a cidade, desde manhã até à noite e com toda a espécie de tempo, a praça para onde me mandavam antes do almoço, as ruas onde ia fazer compras, os caminhos que se tomavam quando estava bom tempo. E, tal como naquele jogo em que os Japoneses se divertem a molhar numa tigela de porcelana cheia de água pedacinhos de papel até então indistintos e que, logo depois de ensopados, se estendem, torcem, tomam cor, se diferenciam, se transformam em flores, em casas, em personagens consistentes e reconhecíveis, assim também, agora, todas as flores do nosso jardim e as do parque do senhor Swann, e os nenúfares do Vivonne, e a boa gente da aldeia, e as suas casinhas, e a igreja, e Combray inteira mais os arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins, da minha xícara de chá. "
Marcel Proust - Em Busca Do Tempo Perdido 1 - Do Lado De Swann
Doenças Crónicas (em Lisboa)
À tarde comprar bombons. Não foi fácil encontrá-los, não havia variedade. Solução doentia: Colombo. Que gigantesco o giga-mercado!... Tudo e em infinita variedade. Milhares de pessoas Terça à tarde fechadas no centro comercial em vez de na natureza. Impossível não nos perdermos mais tempo do que o necessário para os bombons. Mas o que as pessoas fazem, ali, sempre, no Colombo e nos outros?
Doenças Crónicas.
Preparativos
Começo a pensar nas listas do que fazer. Nas recomendações à Marisete. Na sobrinha neta que teima em ficar aninhada na barriga da mãe. No organizar da roupa. Nos documentos e papeladas. Vou de Vueling. Nas prendas para o Zé Miguel, pão de Mafra e vinho tinto.
Gosto tanto de ir, como de voltar. De pensar que vou e quando volto, o prazer que é.
Os gatos não andam muito animados. Foi o efeito mala preta. Apesar de tudo, a dona é a escrava favorita deles.
Comprei-lhes uns miminhos online...:)
A vida é bela e parece que vai chover.
30 de agosto de 2005
De longe...
Mais notícias na primeira oportunidade.
Escrever num computador com caracteres gregos é uma experiência pela qual todos deviam passar.
Abracos de Atenas.
Onde anda o Zoe???
Obrigada.
Um amigo para a gata Sassi
Chama-se Scott e é o cão mais doido, desobediente e querido que alguma vez existiu.
Até ele vir cá para casa, não sabia que se podia gostar tanto de um animal.
Lisboa modo turismo
Levamo-la ao "Sinal Vermelho". O Bairro está fantástico, há lugares para estacionar e sentamo-nos directos na mesa. Ainda é Agosto, pois claro.
Comemos peixe e bacalhau,tinha que ser. A M apaixona-se pelo cesto de pão, mais concretamente pela broa.
Estamos todos cansados, vagueamos um pouco pelo bairro, que está cheio de gente amiga. A noite está quente e está tudo a exercer o verbo esplanadar. Tentamos estabelecer-lhe itinerários e ensinar-lhe a dizer Belém como deve ser.
É engraçado olhar para a cidade e lembrarmo-nos disto e daquilo para dizer.
É bom rever uma amiga. E recordar em detalhe, Roma 1996. Grandes férias.
Suspiros:)
29 de agosto de 2005
Mais uma segunda-feira
A explicação é simples, muito simples... Sexta-feira à noite houve um jantar (de homens!) do Serviço: apanhei uma valente torcida e passei todo o sábado moribundo. Ontem e hoje tentei adiantar um resumo que tenho que ter pronto até sábado. Como não quero sobrecarregar aqui a casa, podem espreitar aqui... e dar sugestões!
PP: Há quem se ande a rir... Há quem já faça o enterro... Mas eu só digo: o primeiro milho é prá pardalada!
PPP: Porque é que nem eu acredito muito no que escrevi ali em cima?
Memórias da Minha Infância Traumática
Um ciclone chamado Katrina.
Um milhão de pessoas é o número que corresponde a quem já foi evacuado. Mas, mesmo assim, há quem prefira ficar na cidade, abrigado no Superdome.
Esta é uma catástrofe que ocorre com hora marcada. Já existem ajudas previstas e estado de emergência decretado na Louisiana. Há uma ordem e organização prontas a responder.
A natureza tem uma força impressionante. Por vezes temos que admitir a nossa impotência face a ela. Esta pelo menos é uma ameaça anunciada. Resta-nos esperar que tudo corra pelo melhor, ou pelo menos mau.
28 de agosto de 2005
O Castelo ao fim do dia II
Durante as férias, tirei este boneco a duas das coisas bonitas de Castelo Branco. Ao fundo, vê-se o que resta do torreão da Casa dos Alcaides e a Torre do Relógio, assente sobre um dos dois torreões da porta principal da muralha que envolve a cidade medieval.
Redacção: Domingo sem feira não.
Eu pensava que era no último, mas alma caridosa esclareceu-me que era no quarto.
O que se compra na feira de Algés?
As coisas que nos estimulam o imaginário. Ou que dele fazem parte. Aquilo em que nos apetece mexer.
É imprescindível ir bem acompanhado a esta Feira. Ou seja, uma pessoa que seja paciente e quetenha um certo grau de loucura, compatível com o nosso.
O que comprei eu? Mariquices dirão vocês.
Esclareço que a linda menina, com o canito a cheirá-la, foi oferecida. Sim, porque eu gosto muito de bonecos de barro. E umas paper doll para a sobrinha neta. (para entregar quando ela tiver 18 anos). E um Graham Greene e um Jules Verne e até um anjo pequenino.
Foi um belo domingo-feira.
E agora vou vestir as bonecas e remendá-las.
SARCASMOS Il
Numa tarde de calor, daquelas que apetece tirar a pele ou encostar numa sombra e bater uma bela sorna, não estava nada moralizado para ir plantar-me à porta de um Banco na Praça de Alvalade. A canícula, potenciada pelo doentio bulício dos automóveis e aviões, não deixava só os cães de língua de fora. Ao quarto de hora para o meio-dia, lá estava, a render o camarada, semi-desidratado e com as pernas a pesar toneladas. Feitos os cumprimentos da praxe, ali fiquei, para cumprir mais quatro horas de serviço remunerado ao BPSM. Já tinha decorrido meio turno, quando um sujeito, de aspecto distinto e na casa dos sessenta, dirigiu-se até mim e à laia de capataz em conversa com seus serviçais interpelou-me nos seguintes termos:
- Onde fica a Rua Aboim Ascensão?
Assim como estava, a olhar para o outro lado da Praça, assim me mantive e fiz de conta que não tinha ouvido a pergunta do interlocutor.
- Onde é a Rua Aboim Ascensão? – insistiu o homem – estou a falar consigo.
Não sendo particularmente devoto de nenhum santo e muito menos do Santo António, que sofria por imposição, no cimo do seu pedestal, os rigores do astro rei, olhei mesmo assim para ele e telepaticamente apelei que me emprestasse umas doses extras da sua paciência. Ele há coisas que não tolero, mas a falta de educação e a arrogância, estão à cabeça.
- Boa tarde – reagi, perante nova insistência.
- Onde é a Rua Aboim Ascensão?
Arre, o tipo, além de elevado défice educacional, das duas uma, ou era teimoso ou duro de ouvido.
- Boa tarde – insisti.
- Eh! Pá, está bem, boa tarde – acabou por soltar, a custo, acusando o toque – onde é a Rua Aboim… – este enfastiamento caiu-me pior que a falta de educação do homem. Nem o deixei acabar, e repliquei, mantendo o olhar no Patrono da cidade:
- Não sei.
- Não sabes? – o tom mudara da arrogância para a estupefacção digna de uma virgem humilhada na sua honra, sem contudo perder o porte magnânimo de um Imperador perante um plebeu – Mas devias saber.
Perante a impossibilidade de termos frequentado a mesma escola, ou de termos alguma vez partilhado brincadeiras juntos, não me caiu nada bem o tratamento familiar com o qual aquele cidadão se dirigia a mim.
- Devia saber porquê? Já agora, conhecemo-nos de algum lado? Não será da escola com certeza?...
O arrogante sujeito, acusou a segunda estocada e ameaçava entrar
- Porque é polícia, ora essa! Tem de saber… – argumentou.
- Pois… e por acaso tem ideia onde ficará essa rua? Tem alguma referência, uma farmácia, repartição, loja, qualquer coisa que possa servir de referência? É que assim, pelo nome, não sei.
- Então veja no roteiro.
- Lamento, não tenho roteiro, ainda não me foi distribuído, mas se aguardar um pouco, posso perguntar para a minha central, via rádio.
- Pois, devia conhecer a área onde faz serviço.
- Lamento informar, mas esta não é a minha área. A minha Esquadra é na Serafina; aqui só faço serviço ocasional ao banco.
- É incompreensível. É a primeira vez que vejo um polícia que não conhece as ruas de Lisboa!
- Sabe, não sou de cá, sou do interior e quanto a conhecer polícias com essa capacidade, posso dizer-lhe que me leva vantagem.
- É aberrante! Há mais de 40 anos que moro aqui e é a primeira vez que, além de me tratarem como você o fez, que encontro um polícia que não sabe as ruas… trazem esta gente da parvalheira para cá e depois querem segurança.
Ao ouvir estas palavras, mais do que a ofensa à minha condição de patego provinciano, fiquei furibundo com o cromo, que afinal morava ali e não conhecia uma artéria, que por sinal eu conhecia por ser adjacente à Esquadra do Campo Grande. Não lhe indicara logo a rua em virtude da forma como o fulano entrara a “matar”.
- Aberrante, aberrante, é o senhor achar que eu, vindo lá da província, estando em Lisboa há pouco mais de um ano, deva saber as ruas todas de Lisboa enquanto que, sendo você morador no bairro há 40 anos, não conhece as do sítio onde mora. Eu espero ainda vir a conhecer algumas.
- Talvez não tenha essa capacidade - grunhiu o palerma.
- Sabe, diz-se na minha cidade, que burro velho não aprende, entre outras coisas, línguas, por isso, espero chegar a velho e ter aprendido algumas... e já agora umas ruas também.
O tipo, ficou durante uns segundo, ali, olhando-me, abrindo e fechando a boca como um peixe fora de água, sem saber o que dizer. Pensei por momentos que o fulano ia explodir, disparatar comigo e apresentar queixa na Esquadra pela minha ousadia. Pelo contrário. Sem a mesma pose com que me abordara, baixou o olhar, deu meia volta e disse:
- Passe bem, Sr. Guarda. Bom serviço.
27 de agosto de 2005
O ACH Brito...
Hoje descobri esta pequenina tira de papel, entre as páginas dum livro de cozinha da minha bisavó.
Estava a assinalar um bolo Ramalho:)
Descobri imensas receitas com bom aspecto.
Em todas elas não existe refogado, mas sim estrugido. Mas gostei deste pequeno lembrete da Floréla:)
O Castelo ao fim do dia I
SARCASMOS I
Há dias, quando lia os comentários de vários leitores de uma edição on-line de um jornal da nossa praça, deparei-me com esta maravilha de um “iluminado” comentador a qual transcrevo:
A notícia comentada fazia referência ao facto de os agentes da polícia só poderem pedir a pré-aposentação aos 55 anos e claro, muitos apareceram (polícias e não só) a comentar esta filosófica medida do Governo. De todas as opiniões, mais ou menos acertadas, mais informados uns, outros nem tanto, enfim, uma quantidade de manifestações acerca do tema, expressas de forma livre, a opinião sarcástica e despropositada do sarcástico senhor não me causou qualquer surpresa, pois, é bem demonstrativa da falta de cultura e sentimento de verdadeira solidariedade em que temos vindo a transformar esta sociedade. Muita gente não pode ver uma camisa limpa ao vizinho sem que vá logo a gritar que é uma injustiça, que todos deveriam usar vestimenta à boa maneira do Mao-tse-tung, ou coisa que o valha. Fico triste por ver, cada vez mais, pessoas que se pensam grandes por pensar de forma tão pequena. Ao longo da vida, aprendi também a ser sarcástico qb e a saber usar essa ferramenta em alternativa a, por exemplo, perder a cabeça perante o sarcasmo dos chamados "Chicos-espertos". Mais para cima conto a estória.
26 de agosto de 2005
Little Nemo!
Enfim:)
Recordar as férias (IV)
Dias que Voam....hmmm, já sei Passarim
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou
Um passeio
É Verão, eu sei. As coisas andam muito mais devagar.
Mas este Verão, em especial, parece ter retirado vigor à cidade. Por causa do Sol, por causa da "seca", por causa das árvores e jardins que clamam por água, por causa das férias, a cidade parece estar a viver um momento de torpor.
Passageiro, com certeza.
Gosto de andar pela cidade a pé, de carro, de bicicleta, de mota, de ambulância (265) e vê-la fervilhante. Durante o dia ou durante a noite. Falo da cidade como um todo e não somente das pessoas. Essas, se não estão, voltarão com a partida das aves de arribação. Voltam sempre.
A cidade, "essa" cidade na qual gosto de me perder todos os dias, voltará, também. Para um passeio.
Em breve, espero.
Procura-se autor das capas pretas
As capas são absolutamente belas, fantasticamente subtis, com aquele rectângulo de cor na parte da frente e o outro, de lado, no alto da lombada.
Tenho dez, estão todos juntos e é a prateleira mais bonita da estante.
No entanto, nenhum dos livros refere o nome do autor das capas. Desconhece-se a razão deste anonimato, voluntário ou involuntário, mas de certeza que muitas pessoas gostariam de saber quem é o responsável por estes grandes prazeres.
hoje é dia de Cortázar
Pablo Neruda
Fogo e Agua
Ontem conversei com um amigo nepales sobre a possivel alteracao climatica global. Ja tinha aprendido alguma coisa sobre este assunto num bom documentario da RTP2. Agora voltei a ouvir a mesma tese por outra fonte.
A ideia e mais ou menos esta: o clima de uma regiao nao depende so da latitude e longitude (a localizacao no planeta). Depende tambem da altitude, da proximidade do mar, do tipo de vegetacao e da proximidade de montanhas e serras. O elemento proximidade do mar e muito mais importante do que eu pensava: nao sao so os efeitos dos ventos que cruzam os mares que interessam, sao tambem as proprias correntes marinhas que contribuem para determinar os climas.
Com um pouco de aquecimento global, basta que algumas calotes polares se derretam para que seja possivel alterar o clima global. O que acontece e que estas calotes derretem como que em cima de uma especie de "central das correntes", para os lados da Islandia/Gronelandia. Esta agua mais fria que a do mar, ao cair em cima dessa central, altera o sentido da corrente, com isso altera o sentido de alguns ventos e pode levar a alteracao dos climas em todas as regioes proximas dos oceanos.
O mais grave e que isto pode acontecer literalmente da noite para o dia, com por exemplo uma descida de temperatura quase instantanea na Europa.
E o facto de isto poder acontecer a qualquer momento e de modo quase instantaneo e ao mesmo tempo preocupante e fascinante.
O meu amigo acha que as pessoas não estao suficientemente cientes deste perigo, desta perigosidade. Eu acho que as prioridades paranoicas dos paises talvez devessem ser revistas: a ecologia está em risco, e um risco muito grande, que pode mudar o mundo para pior, de modo irreversivel e instantaneo.
Outro grande incêndio em Paris, num prédio dos anos 20 e em péssimo estado de conservação. Dezassete mortos (entre os quais 14 crianças) e trinta feridos. Famílias pobres, africanas, alojadas provisoriamente neste imóvel para não dormirem na rua. É o segundo incêndio deste tipo em Paris, em poucos meses.
A frieza dos números é impressionante não é?
Os emigrantes continuam a viver precariamente em qualquer local do mundo.
Não posso deixar de pensar que a mesma situação se passa em Portugal, prédios em péssimo estado sobreocupados por famílias, com enormes carências sócio económicas. Sem ser o incêndio da Avenida da Liberdade em 1986 (salvo erro) e com um perfil muito semelhante ao dos seus similares parisienses, mas com uma muito menor dimensão, até agora ainda não aconteceu nenhuma grande desgraça.
O que acontece é que estas tragédias tem um imenso splash mediático, os políticos em seguida fazem promessas várias..mas nada no fundo é resolvido., como prova este segundo incêndio em Paris.
Em Portugal, como seria?
(adaptação muito livre da notícia do Le Monde de hoje)
Fotos: AFP/PIERRE RACINE
AFP/OLIVIER LABAN-MATTEI
Schwarzschild radius
ve= ((2.G.M)/r)^(-1/2)
em que ve é a velocidade de escape, G é a constante gravitacional (6.67×10^-11 Nm2/kg2), M é a massa do objecto e r o raio desde o centro do objecto ate ao ponto onde queremos calcular a velocidade de escape.
Curioso, calculei qual teria que ser o raio do sol com a massa actual para ter uma velocidade de escape maior do que a velocidade da luz.
Obviamente, alguem tinha feito este calculo antes de mim.
A formula (Schwarzschild radius) que permite este calculo foi primeiro deduzida por um homem chamado Karl Schwarzschild em 1916.
Noites que Voam
Pertenço ao "quotidiano" da noite... à noite dos cantoneiros que nos saúdam quando nos cruzamos, à noite dos polícias gerando eternas cumplicidades, à noite da comida à pressa no meio das conversas de turbinas (do pessoal do Tuning na Estação de Serviço da 2ª circular), à noite da mistura espantosa de gentes no Cacau da Ribeira, à noite das urgências nos Hospitais, à noite em que a solidariedade que se cria é mais forte... à noite em que pertenço totalmente aos outros...
Agradeço ao L. e ao P. (amigos e colegas da Ambulância 265 que partilham comigo estas noites), ao Sr. Eugénio (viúvo há apenas 15 dias esperando que esteja tudo bem), ao Miguel do Bairro dos Alfinetes (espero que não me odeie quando se vir ao espelho, com a quantidade de cabelo que tive de lhe cortar), ao Bernardo (hoje deve-se sentir bem pior...) e a todos os outros que por mim passam nestas Noites que Voam.
25 de agosto de 2005
À memória
Recordar as férias (III)
Depois do fogo...saudades da água.
Três dias sem parar,
Tomara que chova,
Três dias sem parar.
A minha grande mágoa,
É lá em casa
Não ter água,
Eu preciso me lavar.
De promessa eu ando cheio,
Quando eu conto,
A minha vida
Ninguém quer acreditar,
Trabalho não me cansa,
O que cansa é pensar,
Que lá em casa não tem água,
Nem pra cozinhar. "
Paquito/Romeu Gentil
E um turista acidental percorria a cidade...
(fotos: Inundações em Lisboa, anos 30)
Em 25 de Agosto de 1988 o Chiado ardia.
(Fire photos)
Incêndio do Chiado 1988: algumas fotografias
Fotos da Divisão de Comunicação e Imagem, CML
Chiado...1988
Era eu também uma miúda e estava na PC há um ano. Fui acordada por um telefonema de manhã cedo a dizer "Lisboa está a arder".
Ainda me lembro (como esquecer) de estar no local, sentir o fumo a picar-me os olhos, mas também as lágrimas. Eu não era excepção, muita gente chorava naquele cenário apesar de tudo calmo, apesar de tudo parecer surreal. Foram dias de intenso trabalho, sem parar. Andava tudo alucinado. Um fogo urbano também pode ser terrível.
A Baixa nunca mais iria ser a mesma. Descaracterizada há muitos anos , o Siza Vieira até fez um excelente trabalho. Pena não se ter investido no alojamento de famílias nos novos edifícios.(mas essas são outras questões...)
(Quando chegar ao trabalho vou procurar uma boa foto desse incêndio. )
Obrigada ao blog da Sabedoria por me avivar a memória desse dia. Vão quase vinte anos daqui a pouco. Por enquanto só dezassete. Não foi só a Raquel ,que perdeu a casinha nesse dia. Perdemos todos muitas memórias colectivas. Irrecuperáveis.
24 de agosto de 2005
Nisi utile est quod facimus stulta est gloria
Herdei dela este precioso livrinho, que passo a apresentar:
É muito velhinho e manuseado, já passou por muitas mãos impacientes.
E eis a paciência, que acho adequada a este blog...
Dizia o senhor Bento da Maia, que tinha encontrado no próprio livro uma distracção que minorava os desgostos "inerentes à velhice devido à decadência da inergia e ao menosprêso daqueles cuja convivência me fôra agradável e me abandonaram depois que conseguiram os seus desideratos, que talvez hoje não vejam pelo mesmo prisma"
Ufa, a Frutuosa não diria melhor:)
Não sei adjectivar. Só quero partilhar o prazer de o ler.
"Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti
até que a dor alegre recomece."
Maria Gabriela Llansol
Já ameacei que ia cantar. Ficaram aterrorizados e transidos de pavor gélido, tipo prisioneiros de Mordor.
Essas ameaças ainda resultam sempre. Só ouço por escrito.
Entretanto a ventoinha continua esforçadamente a fazer-me um brushing total, tipo bruxa de Salem. Ou madame Min, quiçá:)
Bom dia para todos. E Orlando , ainda bem que deste notícias:) Fixe!!! Não esquecer a fish called Wanda.
23 de agosto de 2005
Piano Man
Encontrado em Inglaterra, à beira mar, sem documentos, com as etiquetas da roupa arrancadas. Não dizia uma palavra. Amnésico, julgou-se.
No hospital para onde foi levado continuou a responder a autoridades e médicos apenas com silêncio. Várias teorias foram alvitradas.
A todos surpreendeu quando, ao darem-lhe papel e lápis, desenhou um piano. Depois tocou magistralmente no piano da capela do hospital, “os médicos concluíram tratar-se de um músico talentoso”.
Foi descrito como mentalmente frágil, sensível e vulnerável. A sua timidez era tão grande que ficava agitado quando na presença de alguém que não conhecia, sentava-se no chão, em posição fetal, ou refugiava-se num canto.
Só que afinal tudo não passou de uma farsa criada pelo jovem. Na altura em que foi encontrado tentava suicidar-se e, por embaraço, admitiu agora, criou a misteriosa personagem. Nunca soube tocar piano, desenhou, diz, a 1ª coisa que lhe veio à cabeça e limitou-se a “dedilhar” as teclas ao acaso. Quanto aos sintomas, reproduziu o que sabia serem comportamentos típicos de perturbações do foro psíquico.
Assim termina a história que apaixonou a opinião pública durante vários meses, o "piano man" é uma fraude.
a convite da T vou colocar, como 1ª contribuição um texto que recebi sobre a problemática dos incêndios.
«Se a área ardida é já maior do que em todo o ano de 2004, será apenas a "seca" a responsável?
Os média querem-nos fazer crer que na origem destes fogos estão as insuficientes estruturas de prevenção primária ou secundária. É evidente que estas estão em défice em muitos pontos críticos do país. Mas isso é devido a um modelo centralista de "desenvolvimento" que tem votado ao abandono o interior, e especialmente, o centro e norte do país. Assim, os terrenos têm sido invadidos ao longo dos anos por uma floresta de produção, com um único rendimento, a madeira de baixa qualidade, para as celuloses (eucalipto) ou para carpintaria (pinho), para alimentar as indústrias "rentáveis", que estão nas mãos de uns poucos grandes grupos, sendo também as responsáveis pela maior poluição atmosférica e sobretudo dos cursos de água, no caso das celuloses (os rios ficam mortos). Para esta indústria mortífera das celuloses, é essencial dispor de uma mancha de eucaliptal que consiga abastecer as suas fábricas directamente, sem ter de negociar com pequenos proprietários ou com intermediários a compra de madeira.
Assim, quanto mais fogos houver, mais pequenos e médios proprietários irão ver-se forçados a venderem as suas terras queimadas, ao mais baixo preço. Torna-se assim vantajosa a compra dessas propriedades pelas empresas de celuloses, que ficam com a garantia de auto-abastecimento e sem necessidade de recorrer aos agricultores/silvicultores. Estes arruinados - apenas lhes resta emigrar para os centros urbanos, havendo uma série de aldeias e mesmo vilas que estão a morrer no centro e centro norte de Portugal, por causa deste efeito de desertificação económica. Trata-se portanto de uma guerra económica pelo fogo, uma autêntica política de terra queimada, levada a cabo pelos grandes interesses. É isso que o governo e os média ao seu serviço escondem, é isso que é preciso denunciar, pois está na base desta catástrofe recorrente dos incêndios estivais.»
parece-me que a problemática dos incêndios não se resolve nem com a compra de mais umas quantas aeronaves... nem com noticiários teelvisivos cheios de belas labaredas., é preciso ir às causas... & não aos efeitos.
acho que para começar, já está um post muy longo...
The end...
Fica a recordação de um excelente blog e a sugestiva imagem final.
Primeira vez
Parece que finalmente é hoje que vou começar a postar nos dias que voam pela primeira vez (desde que a minha amiga T me convidou).. Era para ter sido na sexta-feira mas não correu bem. Primeiro o computador foi abaixo, depois o sistema falhou. Ontem voltei a tentar, tinha a casa e a internet só para mim mas queria mostrar umas imagens de Veneza, onde estive durante uma semana, e não consegui descarregá-las.
Espero que seja desta. A emoção da primeira vez é a mesma.
Aqui ficam três imagens das três vertentes da cidade da água: a mágica e calma, a turística e frenética e a imponente e deslumbrante. Gostei de lá estar, foi bom, muito bom e os dias voaram. Mas confesso que o embate não foi tão avassalador como imaginava. Talvez as minhas espectativas fossem demasiado elevadas. Foram anos e anos a fantasiar...
Demorei um bocado a conseguir colocar as fotografias. O melhor é publicar já isto antes que aconteça mais alguma.
Vou gostar de escrever aqui!
22 de agosto de 2005
A chama da fúria
Não sentem fúria de ver o país a desaparecer em cinzas ?
Quantas cenas repetidas, de aldeias, vilas e até cidades ameaçadas pelas chamas,
Todos anos igual. Todos os anos, fogos postos,
Todos os anos, incúria de florestas abandonadas,
Todos os anos os políticos coçam a cabeça e resignados, querem-nos vender inevitabilidades.
Alguma coisa pode e tem de ser feita ! Este país merece melhor sorte, melhores políticos, e afinal melhores portugueses, digo eu ...
Descoberta
Pelos vistos, existe uma espécie de bolsa de blogs, onde fazem um registo - mais ou menos actualizado - de milhões. Nós estamos lá e, pelos vistos, estamos disponíveis para transacção... também podemos descobrir o nosso "valor comercial", o nosso "share" e a "importância" dos blogs que nos visitam.
Não acreditam... ... ... ?
Então vejam aqui!
Site Meter
Vão descobrir que fomos encontrados porque o Tiago falou dum cagalhão, o carlos disse foda-se e falou no Purcell, que o perfil do Sombra Clara é visitado várias vezes ao dia, que vieram downloadar imagens como aquela da boneca de borracha,do bolo de anos em forma de coninha, da boazona portuguesa que o F postou e de algumas violas
Até o esfenoide do Gasel foi visitado com todo o empenho. E muitas mais doenças de que ele falou.
Para não falar de outros assuntos mais profundos como a procura dum caga-lume ou de "quando judas iscariotes foi chamado?"..etc etc....é muito divertido isto:)
Uma pessoa pesquisou por "Há dias assim". Eu estou como ela, hoje deu-me para isso.
A passagem
O camião TIR sem travões que descia a rua discordou.