18 de julho de 2005

Tenho uma Tosta e uma Cerveja na Cabeça

Tenho uma tosta e uma cerveja na cabeça. Mas não é a tosta e a cerveja que sinto na cabeça. Daqui a pouco passarão para o estômago; sei porque está a chegar aquele cilindro de aço brilhante que se espeta com o lado rombo pela frente da minha testa como uma garrafa de uísque.

Acho que vai ser hoje que vou ver um episódio completo daquela série que dá na rtp2. Agora que o episódio está a chegar ao fim, já posso formular a minha opinião baseada na experiência. É uma opinião inteiramente nova, gerada agora mesmo. E essa opinião é exactamente igual à minha velha opinião baseada no preconceito.

Isto acontece-me muitas vezes. Talvez seja perspicácia, ou “instinto cultural”. Mas eu já sei como é que as coisas vão ser para mim a partir de minúsculas partículas que estão longe de formar o todo. Pode ser dito que pelo facto de levar um preconceito quando vou para a experiência, só retiro dessa experiência aquilo que comprova o meu preconceito. Mas não é verdade. Atiro-me para a experiência sem o pára-quedas do preconceito como um bébé atirado contra a vida. Sou honesto.

A língua portuguesa é mesmo muito complicada, difícil. Para além dos verbos, que têm vários tempos em cada modo e, complexidade da complexidade, têm de ser aprendidos tanto nas formas complexas (aquelas que são mais simples porque têm verbo auxiliar) como nas formas simples (aquelas que, por não serem ajudadas, são mais complexas), há ainda resquícios muitos de declinações e há casos acusativos e dativos.

Por exemplo, eu amava-a e eu amava-lhe. O primeiro caso deve ser o acusativo, o “quem”. O segundo deve ser o dativo, o “a quem”. Mas no eu amava-lhe fica a pergunta: o que é que eu amava a ela?

Engraçado mesmo é que na língua portuguesa o verbo no imperativo muda conforme a ordem seja afirmativa ou negativa. Mas isto só no informal (no tu). Já viram um verbo mudar só porque a frase é afirmativa ou negativa? Faz! Não faças! É em ambos os casos o tempo presente na segunda pessoa do singular. A única diferença é ser ou afirmativa ou negativa, o que determina o uso ora do modo indicativo ora do modo conjuntivo. Que o imperativo possa estar no conjuntivo é original.

Afinal, não vi o episódio até ao fim. Já sei como vai acabar. Sem experiência.

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