1 de julho de 2005

Bubudeiras

(10) Decorre da perfeição suprema de Deus, que produzindo o universo escolheu o melhor plano possível, no qual há mais variedade, com o máximo de ordem: o terreno, o lugar, o tempo, mais bem ordenados: o máximo de efeito produzido pelas vias mais simples; o máximo de potência, o máximo de conhecimento, o máximo de felicidade e de bondade nas criaturas, que o universo podia admitir. Porque pretendendo todos os Possíveis à existência no entendimento de Deus, na proporção da sua perfeição, o resultado de todas essas pretensões deve ser o mundo actual mais perfeito que seja possível. E sem isto não seria possível dar a razão pela qual as coisas foram assim e não de outro modo.

(13) Porque tudo está regulado nas coisas de uma vez por todas e com tanto de ordem e correspondência quanto é possível, não podendo a suprema sabedoria e bondade agir senão com uma perfeita harmonia: o presente está prenhe de porvir, o futuro poder-se-ia ler no passado, o remoto exprime-se no próximo. Poderíamos conhecer a beleza do universo em cada alma, se nos fosse possível desdobrar todas as suas dobras, que só com o tempo se desenvolvem sensivelmente. Mas como cada percepção distinta da alma compreende uma infinidade de percepções confusas, que envolvem todo o universo, a própria alma não conhece as coisas das quais tem percepção a não ser na medida em que delas tenha percepções distintas e reveladas; e (a alma) tem perfeição, na medida das suas percepções distintas. Cada alma conhece o infinito, conhece tudo, mas confusamente; como ao passear-me no litoral do mar, e ouvindo o grande ruído que ele faz, ouço os ruídos particulares de cada vaga, cujo ruído total é composto, mas sem os discernir; mas estas percepções confusas são o resultado das impressões que todo o universo faz sobre nós. O mesmo se passa com cada Mónada. Só Deus tem um conhecimento distinto de tudo, pois é a sua origem. Disse-se muito bem, que está como centro em toda a parte; mas a sua circunferência não está em parte alguma, embora estando-lhe imediatamente presente, sem nada se afastar desse centro.

Leibniz – «Princípios da Natureza e da Graça»


(60) (...)Não é no objecto, mas na modificação do conhecimento do objecto, que as Mónadas são limitadas. Todas se dirigem confusamente para o infinito, para o todo, mas são limitadas e distinguem-se pelos graus das percepções distintas.

Leibniz - «Monadologia»

Ninguém se atreva a citar o Cândido. À sexta cerveja, e com a Billie Holiday em repeat, Leibniz tem razão.

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