27 de junho de 2005

Tenho saudades de uma biblioteca, que não a minha. Uma qualquer que empreste livros, que eu possa escolhê-los e devolver a tempo aprazado. Foi assim que cresci, a ler todos os Tintim na biblioteca do meu liceu. Estavam guardados numa estante revestida a uma rede de galinheiro. Nem por isso eu esmorecia e deixava de exigir o que eu queria ler.
Para uma devoradora de livros como eu sou, depressa o que tinha em casa foi lido, numa amálgama colorida, desde a Biblioteca cor de rosa, a azul , o Delly, à Biblioteca dos rapazes, ao Mundo de Aventuras e aos fantásticos livros do meu irmão mais velho, que eu estava proibidissima de ler. Foi aí que li muito cedo livros eróticamente suaves, que eu entendia mais do que compreendia. Li também numa fúria desmedida o Josué de Castro, o Larousse Illustré, o Jorge Amado,o Maugham, Erico Verissimo , Tchecov, Dostoievski, etc, etc... Dois livros só me assustavam: as confissões de Santo Agostinho e o Andam os Faunos pelos Bosques do Aquilino. Sim, devia ser muito pequena, para ter tanto medo de capas com desenhos. Porque me lembro assim de repente destes e não de outros? Não sei realmente explicar.
E depois os policiais, que gozo me dava a intriga, o criminoso, o desvendar, o descobrir. Ainda hoje gosto e cada vez mais. Viva a tia Patricia!
Eu até do Júlio Dinis gostava, valham-me os santos. Acho que passei e passo horas infinitas noutros mundos desligada de tudo. Clique e aqui vou eu. Li a Sibila no metro.
Com toda esta amálgama ainda hoje me irritam as leituras politicamente correctas. Por isso só estive um ano num enfadonho curso de Línguas e Literaturas: decididamente queriam exterminar o meu gosto pela palavra escrita. Eu não o permiti.
Porque estou a fazer esta catarse? Talvez pela porra de sentimento de ter saudades de uma boa biblioteca. Em estudante descobri uma na Casal Ribeiro, destinada a trabalhadores dos CTT. Era linda e enorme, sem grades, com todas as novidades. Depois acabou. Só para os ditos trabalhadores.
Sei, sei, agora encho esta diminuta casa de livros e estantes. E empresto aos amigos. Um deles dizia sexta feira radiante, que bom isto parece a biblioteca pública. E o namorado acrescentou, "a gente devolve Teresa".
Não fiquei preocupada, há mais nas livrarias. Mas claro que me lembro exactamente durante anos, quem se esqueceu de me devolver a livralhada e os títulos e não perdoo. Risos.
Catarse feita, ok.
Só para dizer, que tenho saudades de uma boa biblioteca pública. Estou irritada. Gosto mais de coisas realizadas,do que de ser saudosa. Sei, sei, defeito meu.
Agora notei que omiti as longas horas passadas na casa de banho a ler livros proibidos. Escondia as provas do delito no roupeiro da roupa suja. Sempre me safou esta cara de inocente que Deus me deu. E saber estar calada, às vezes.Só me lembro de ter lido o Primo Basílio de folhas coladas com fita cola. (as partes melhores, obviamente). Tinha uma mãe muito zeladora na moral e bons costumes, mas a quem devo muitos prazeres, um deles o de me ter oferecido o Reverte primeiro, "Mestre de Esgrima". Era uma mulher extraordinária. Que me ensinou que não existe solidão, há o não saber estar sozinho.

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