28 de abril de 2005

Recebi outra carta

Foi hoje, na consulta.
O senhor Costa é um respeitável velhote, com quase oitenta anos de idade, e esteve internado há cerca de um mês, no nosso Serviço, devido a uma colite isquémica. Hoje compareceu na consulta de seguimento e aparentava um óptimo aspecto, tão bom que nem o reconheci, ao princípio.
Após os cumprimentos iniciais, lá lhe fui fazendo as perguntas de rotina: se se sentia bem, se tinha - ou não - dores abdominais, se o trânsito intestinal estava - ou não - regularizado, se tinha - ou não - notado novamente sangue nas fezes, e por aí fora. E tudo parecia estar bem, ou quase… o problema era a cor das fezes: quando saiam tinham um tom vagamente avermelhado, não vermelho sangue, mas um outro avermelhado, guerná talvez, às vezes um castanho encarniçado, mas quando secavam não se notava, ou às vezes secas é que pareciam meio vermelhuscas, ou não…
Eu lá lhe ia dizendo que não era muito importante, que teriamos fazer um novo exame de qualquer modo, para ver se tudo tinha resolvido bem. E que aí, ficaríamos descansados… Mas nada, ele não parava de confabular ácerca da cor das ditas
Às tantas, parecendo já entrar noutro assunto, diz ele:
- Quer ver…?
- ...?
E tira um envelope do bolso de dentro do casaco. E mostra-mo…
Era um envelope, bem fechado, com uma daquelas janelinhas transparentes para se ver a morada do destinatário. Neste envelope, por essa janelita, via-se um bocado de papel higiénico, cuidadosamente esticado, com restos secos de uma cagadela. Castanhos, definitivamente.
- Está a ver!
- ...!
- Nota algum tom avermelhado, doutor?
- Não, são completamente castanhas…
- Ahhh...

Como já da outra vez tinha dito, cada um recebe as cartas que merece!

PP: E... boa sorte para o Sporting!

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