Grande parte do tempo é passado em silêncio. Um silêncio que se vai tornando pesado à medida que o tempo passa. Escolhemos as palavras que não dizemos porque não fazem sentido, são redundantes e não acrescentam nada à nossa existência. Quando damos por isso nada mais resta e fica escuro e triste o passar do tempo.
Não entendo assim o uso das palavras. Todas têm um lugar no nosso universo sonoro. Podem não transmitir ideias ou conceitos, mas transmitem calor, um som ambiente em que reconhecemos o que sentem os que estão à nossa volta. Perguntar quando se sabe a resposta, comentar o óbvio, sugerir o inevitável, todas estas palavras que não servem para coisa alguma, são afinal o som ambiente por onde perpassam emoções, bem-estar e música que nos permite reconhecer nos diversos intérpretes o que nos agrada ou não.
Pontuadas com o necessário silêncio são o único guia que temos para nos sabermos amados, odiados ou vítimas da indiferença.
Este som estranho das palavras que não servem para nada só é possível de obter com mais do que um intérprete. A solo é uma espécie de exercício que humilha. Perguntar o óbvio e não obter resposta pode ser tão violento como colocar um disco de Miles Davis e ouvir o Clayderman fora do elevador.
Algo vai mal quando a voz do outro nos irrita ao ponto de não o querermos ouvir e todas as palavras nos soam a lugares comuns.
Se é verdade que todas as palavras já foram ditas, também é verdade que nem todas as tonalidades de voz foram sentidas. Se anularmos as palavras acabamos com os afectos e sobra a amargura pontuada pelo falso silêncio que nos grita aos ouvidos, sem harmonia e, afinal, como o único lugar comum sem interesse, conteúdo ou vibração.
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