21 de novembro de 2004

as furnas do vale de alcântara

leio hoje no jornal que a última furna habitada no vale de alcântara desapareceu em 1995.

quando eu era puto, costuma ir do bairro alto (onde trabalhava) a pé para o parque do alvito (onde gozava a vida de puto).
normalmente, atravessava o vale de alcântara pelo viaduto duarte pacheco, onde passava um carro de quando em vez.

algumas vezes, ficava-me pelo meio e descia ao vale.
sempre me fascinaram a imensa quantidade de furnas que existiam naquele vale.
fascinava e intrigava.
as encostas do vale de alcântara, quer do lado do casal ventoso, quer do lado do bairro da liberdade, tinham uma intensa actividade humana.
alí assisti a muitos jogos de futebol no campo da lixívia (alguns acabavam um bocado mal...).
alí conheci muita e excelente gente que morava nessas grutas.
algumas, constava terem mais de 1 quilómetro de comprimento, nos seus diversos braços (como hoje confirmo na nótícia do jornal).
nelas viviam imensas pessoas.
um pano enorme a tapar as entradas. lá dentro vida intensa.
pessoas que ali faziam as suas festas, as suas celebrações. ali conviviam e partihavam quase tudo.
hoje refazer aqueles percursos seriam um pouco menos que suicida.
percorrer alinha do comboio, atravessar o tunel e sair com a luz intensa do outro lado.
aquelas tardes amenas com cheiros de petiscos no ar.

gostava do vale de alcântara daqueles finais dos anos 60.
gostava daquela aldeia grande dentro da cidade enorme.


ainda bem que já não gente a morar em grutas em lisboa.
ou será que há?
em grutas e em locais ainda piores...

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