9 de agosto de 2004

Cinzeiros

Há na minha casa de Milheirós - a casa onde cresci - objectos absolutamente bizarros. Suponho que aconteça o mesmo nas casas dos outros. O meu objecto obtuso preferido da casa da Nortilândia é um cinzeiro. Não é um cinzeiro qualquer, obviamente. Não é um mero cinzeiro anaperonzado. É um cinzeiro em forma de mosca, pesado, grande demais e com um ar pouco menos que assustador. Para usar o cinzeiro temos que levantar-lhe as asas e revelar o seu interior oco - a estranheza vai aumentando. Os olhos da criatura são vermelhos. Curioso é lá em cima ninguém fumar dentro de casa. Com certeza aquele cinzeiro em especial nunca foi usado, servindo apenas como decoração e "just in case", caso apareça alguém realmente importante - nos padrões da avó Miquelina (sim, Miquelina) - que fume e que a dobre. Imagino que um qualquer bispo o conseguiria.

Por alturas da mudança, um tio - que tem o hábito de violentar e bater numa daquelas máquinas em que se enfia uma moeda a troco da manipulação de uma pequena grua, com o propósito de sacar de lá bugigangas variadas por pouco menos que um euro - deu-me justamente um cinzeiro (traz sempre sacadas de objectos diversos e perfeitamente inúteis, para aumentar ao espólio). Não é uma mosca, nem é assustador. É uma baleia amarela com um ar tremendamente simpático - até tem aquele dispositivo um bocado espalha-brasas (literalmente) de filtrar o ar contaminado. Para se usar temos apenas que lhe abrir a boca (não digo que seja uma coisa muito simpática para a bicha, mas ela parece não se importar). Gosto muito da minha baleia, e uso-a com alegria. Foi a coisa mais bonita que algum dia saiu das tais maquinetas. Assim até dá gosto.

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