30 de julho de 2004

nick drake ou o regresso dos mortos vivos

há músicos que só conseguiram ter carreira após a sua morte.
uma espécie de mortos vivos sem o aspecto aterrador que normalmente os assim nominados têm no cinema.
o nick drake gravou 3 discos ao longo da sua curtíssima vida.
vendeu uns míseros exemplares desses discos enquanto viveu.
30 anos depois da sua morte, provocada por uma dose excessiva de trytizol (ao que parece este anti depressivo deixava-o ficar numa espécie de limbo que o fez esquecer que já tinha tomado uma dose antes da dose que o matou...), a edição de mais um cd com uma nova compilação remisturada, revisitada, requalquer-coisa-que-vá-ajudar-a-vender, provocou uma avalanche de notícias, artigos, ensaios, análises, e até este post...
do liberation ao monde, do guardian ao nyt, todos celebram o regresso do morto vivo.
é estranho que um músico que morreu quase desconhecido e que vendeu pouquíssimas cópias dos seus trabalhos (o facto de, practicamente, não existirem entrevistas registadas, registo de concertos ao vivo ou bootlegs é sinal que, enquanto viveu, ninguém lhe ligou...) tenha agora uma verdadeira corte de admiradores de joelhos na sua campa...
para alimentar a sede insaciável dos consumidores ávidos de mais um sinal do génio (o monde chama-lhe 'o werther de cambridge'..) foram buscar uma canção até agora não editada e juntaram o resto do pacote com umas antigas misturas (ao que parece recuperando a primeira versão das misturas que não foram utilizadas nas edições originais).
se juntarmos estas versões todas das misturas ficamos com uma espécie de 'edição diplomática' da obra, com anotações de rodapé, sublinhados e manchas de café a cairem sobre o papel...


não há pachorra....

p.s.1.
o cúmulo destes mortos vivos parece ser agora o jeff buckley: editou 1 (um) disco em vida (também morreu num acidente estúpido com um barco a motor a passar-lhe por cima enquanto tomava banho num rio nas traseiras do estúdio onde estava a gravar o seu segundo disco).
após a sua morte, a sua discografia passou deese disco único para uns 15 bootlegs, mais uns 3 'oficiais' de concertos ao vivo (o do olympia é fabuloso..), mais uns quantos com tudo o que são gravações caseiras, fitas encontradas pela mãe, cassetes que enviou para editoras e rádios... num total de cerca de 30 cd's... pelo menos.

p.s.2
apenas para que conste.. sou admirador confesso e devoto de ambos, mas não há pachorra...

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