21 de julho de 2004

Antes que a foto apareça...

 
Poemas Zen
 
 
 Para poder caminhar através do infinito vazio,
 a vaca de aço deve transpirar.
 
 A verdade é como um tigre que tivesse muitos cornos,
 ou então como uma vaca a que faltasse o rabo.
 
 De tarde o galo anuncia a aurora,
 brilha o sol vivamente à meia-noite.
 
 As palavras não fazem o homem compreender,
 é preciso fazer-se homem para entender as palavras.
 
 Se tirares água,pensarás que as montanhas se movem;
 se levantares o véu,verás a fuga das falésias.
 
 Cantam à meia-noite os galos de madeira,
 e os cães de palha ladram para o céu límpido.
 
 Se acaso vires na rua um homem iluminado,
 não o abordes com palavras,não o abordes com o silêncio.
 
 Conduz o teu cavalo sobre o fio de uma espada,
 oculta-te como puderes no meio das labaredas.
 
 Há tantos anos vive o pássaro na gaiola
 que hoje pode voar entre as nuvens.
 
 Quando o peixe se move,turvam-se as águas;
 quando o pássaro voa,uma pena.
 
 No fundo das montanhas está guardado um tesouro
 para aquele que nunca o procurar.
 
 As colinas são azuis por elas mesmas;
 por elas mesmas,brancas são as nuvens.
 
 Sentada calmamente sem coisa alguma fazer
 aparece a Primavera, e cresce a erva.
 
 Os rochedos levantam-se no céu,
 o fogo brilha no fundo da água.
 
 Colhe flores,e as tuas vestes ficarão perfumadas;
 tira água, e a lua estará nas tuas mãos.
 
 O vento pára,as flores caem,um pássaro canta
 -a montanha conserva o seu mistério.
 
                                                                                          herberto helder
 
 
 
 
 
 
 

 

 

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