11 de maio de 2004

Assim posta o g2:) Finalmente. Não vou acrescentar mais nada.

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Abria a janela de manhã, e via as sombras que a casa projectava. Só lá mais
para a manhã é que o Sol lhe inundava o quarto, mas nessa altura ele já lá
não estava!
Tinha adormecido ao som do mar que estava ali perto, como aliás adormecia
sempre. Ficou encostado à janela, a olhar para o sítio onde sabia que o mar
estava, mas não o via! Sorriu…
Tinha-a encontrado no sítio menos romântico possível, numa fila de uma caixa
de hipermercado! Ele murmurou qualquer coisa quanto à demora por que passava
e ela, afinal, fez coro com a sua voz. Juntando-a à dele! Um sorriso e outro
sorriso… Tão simples quanto isso. Depois a ajuda cavalheiresca para os
sacos, o quase sem querer “Vou beber café, acompanha-me?”. Ele nunca tratava
as pessoas por tu assim sem mais nem menos, ainda por cima com uma diferença
de talvez dez anos entre ambos. Na altura não sabia nada dela: era uma voz,
baixinha e suave, um sorriso e um olhar que ele não se atreveu a definir! Há
coisas que só o instinto define, não devem ser “enfeiadas” com adjectivos!
Ele respeitou o olhar dela e não o definiu! Com dois sacos de plástico dele
numa mão e outros dois dela na outra mão, ele esperou que ela dissesse sim e
ela serviu-se dos sacos para dizer que “Sim, tenho de ir, senão você fica-me
com as compras”. Um sorriso mais amplo, um respirar fundo um “Então vamos” e
foram. O café foi café e pastel de nata, as migalhas do bolo são óptimas
para desfazer situações demasiado formais, ele não as queria, ela tão-pouco!
E conversaram e a tarde passou! Ele falou do mar que o atraía, dos
desassossegos que o invadiam! Contou-lhe de como não sabia explicar bem o
que sentia relativamente a coisas presentes como a pedofilia, contou-lhe que
gostava de saber que não havia crianças a sofrer, para lá das otites, do
sarampo, das negativas na escola e dessas coisas que fazem parte da vida das
crianças e dos adolescentes! Contou-lhe a ela, olhos tristes os dele, que
conhecia dois casos, não de abuso de qualquer espécie, mas de um outra coisa
terrível: o de duas crianças ignoradas pelos pais, qualquer delas a preferir
que o pai ou mãe lhe batessem todos os dias em vez de nem olharem para eles.
Que adultos virão a ser aquelas crianças?! Ele não fez juízos sobre casos
concretos, pedia só que a justiça estivesse iluminada, na hora de decidir!
Tal como gostava que no seu país, disse ele, as coisas que andam à solta
fossem postas às claras, que toda a gente soubesse que corrupção é excepção
e não regra! Ele disse que gostava que os políticos da sua terra fossem
exemplos e acha que não são, ela sorriu e disse que ele era ingénuo, ele
sorriu também, a tarde passava demasiado depressa.
Contou-lhe do seu trabalho, de quanto gostava de se sentir bem disposto,
disse-lhe que detestava irritar-se.
Falou-lhe dos livros que andam neste momento atrás dele, dos dois últimos
Lobo Antunes que ele desconfia que não vai conseguir ler, está farto da tia,
de África, da filha, do divórcio, do Alentejo dos livros dele! Dos Mia Couto
que se vão lendo, adora a maneira como ele brinca com as palavras, do livro
que ainda não começou a ler e que pretende mostrar a Bíblia através dos
olhos de uma mulher! Do Código de daVinci que lê e da biografia de Claúdio,
o mais intrigante e talvez belo, belo enquanto político, estadista de Roma!
Dos livros de Steven Saylor que ainda não leu e são também dois e de um
outro cujo nome ele não se lembra agora! E contou-lhe que também lia, quase
todos os dias, um pouco da Odisseia e ela riu-se outra vez, talvez ela tenha
dito, só para si, é maluco! Lembra-se de lhe ter dito que não gostava muito
de coisas desarrumadas, é um pouco de Poirot nesse aspecto, mas só um pouco,
claro!
E falaram de mil e uma coisas, cada um deles pôs o nome e número dos
telefones do outro na memória do seu, trocaram endereços de correio
electrónico, escreveram tudo com a caneta dele e ele disse então, a coragem
a vir ao de cima, “Jantas comigo?”, estava na hora de a tratar por tu, ela
disse “Sim, janto contigo”, levantaram-se, as mãos tocaram-se porque todas
as mãos resolveram à uma pegar nos sacos e foi um momento, mais nada! Ele
disse que gostava de jantar em casa, se ela não se importasse e ela não se
importou!
Jantaram em casa dele, ela ajudou na cozinha, ele percebia pouco dessas
coisas…

(Continua…) g2

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