24 de março de 2004

A cultura do quarto do fundo

O post do Gasel deixou-me a pensar. Em Portugal é comum os velhos meterem-se no quarto do fundo à espera da morte. Este cenário vai, devagarinho, mudando, com excursões a Badajoz e Vigo em que os velhotes são bombardeados com Tupperwares, aspiradores e afins. Já não é mau. Mas ainda é raro ver um velho português a fazer o que se vê em países mais civilizados. Na semana passada, em Cuba, uma turista que já devia ter 400 anos no tempo do Fontes Pereira de Melo, curvada precisamente como a bisavó do Gasel, lá andava, toda lampeira, amparada no seu homem, de ar igualmente fóssil. A última vez que a vi descia a custo do autocarro de Havana. No meio daquela carcaça destruída uns olhinhos brilhantes deixavam adivinhar histórias imensas. Há-de estar na cova e ainda a esgravatar para ver mais qualquer coisa cá de fora.

Uma das minhas lutas diárias é tirar as idosas solitárias dos seus apartamentos tumulares e pô-las a mexer. Quando se consegue é ver o ar de espanto delas, ao perceberem que conseguem ir para a piscina fazer hidroginástica. Ainda mais surpreendidas ficam porque gostam. E depois não querem outra coisa.


Ah, maldito obscurantismo pré 25/4, que ainda vamos, por muito tempo, viver com os efeitos dele...

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