20 de janeiro de 2004

A propósito de um poema

A Bomba Inteligente e o Mestre Abrupto entraram numa polémica grega, a propósito de um poema de Konstandinos Kavafis. Parece que as traduções do grego são difíceis e podem resultar em coisas ligeiramente diferentes. Ora vejamos...

Mar da manhã

Que eu me detenha aqui. E que também eu veja um pouco a natureza.
De um mar da manhã e de um céu sem nuvens
roxas cores brilhantes e margem amarela; tudo
belo e grande iluminado.

Que eu me detenha aqui. E que me engane para ver isto
(vi de verdade isto por um instante quando primeiro me detive);
e não aqui também os meus devaneios,
as minhas recordações, os modelos da volúpia.

by J. M. Magalhães e N. Pratsinis, citado pela bomba.

Hei de deter-me aqui. Também eu contemplarei um pouco a natureza.
Do mar da manhã e do céu inube
azuis brilhantes, e margem amarela; tudo
belo e grandiosamente iluminado.

Hei de deter-me aqui. E me enganar que os vejo
(em verdade os vi por um momento ao deter-me)
e não também aqui minhas fantasias,
minhas recordações, as imagens do prazer.

by R. M. Sulis, M. P. V. Jolkesky, A. T. Nicolacópulos, citado pelo Abrupto

Já agora, deixo-vos as versões inglesa e francesa, e logo vêem qual parece melhor...

Morning Sea

Let me stop here. Let me, too, look at nature awhile.
The brilliant blue of the morning sea, of the cloudless sky,
the yellow shore; all lovely,
all bathed in light.

Let me stand here. And let me pretend I see all this
(I really did see it for a minute when I first stopped)
and not my usual day-dreams here too,
my memories, those images of sensual pleasure.

by Edmund Keeley and Philip Sherrard

Le matin sur la mer…

Que je m'arrête ici.
Et que je regarde un peu la nature.
Le bleu éclatant du matin sur la mer
Et du ciel sans nuages, ces rivages dorés,
Toute cette beauté brillamment éclairée.

Que je m'arrête ici.
Que je m'imagine voir ces choses
En vérité, je les ai vues un instant en arrivant
Et que je ne voie plus mes chimères,
Mes souvenirs
Et les visions de la volupté.

by M. Yourcenar (salvo erro)

Hummm... este grego deve ser mesmo difícil!
Por isso aqui fica a versão original para tirar as dúvidas.

ΘΑΛΑΣΣΑ ΤΟΥ ΠΡΩΙΟΥ

Εδώ ας σταθώ. Κι ας δω κ’ εγώ την φύσι λίγο.
Θάλασσας του πρωιού κι ανέφελου ουρανού
λαμπρά μαβιά, και κίτρινη όχθη• όλα
ωραία και μεγάλα φωτισμένα.

Εδώ ας σταθώ. Κι ας γελασθώ πως βλέπω αυτά
(τα είδ’ αλήθεια μια στιγμή σαν πρωτοστάθηκα)•
κι όχι κ’ εδώ τες φαντασίες μου,
τες αναμνήσεις μου, τα ινδάλματα της ηδονής.

Que acham?

PP: Devo estar mesmo esquisito, para andar com estas bizantinices...



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